A animação Wish: O Poder dos Desejos, lançada em comemoração aos 100 anos da Disney, é divertida, emocionante e aquece os corações.
O texto contém spoilers e lista algumas referências.
A aventura começa no Reino Mágico de Rosas, onde Asha, uma menina de 17 anos, descobre que o Rei Magnífico não é o que todos do lugar imaginavam e, por isso, faz um desejo tão poderoso que é atendido por uma Estrela.
Wish não é um filme que inventa a roda ou revoluciona o cinema. Longe disso. Ele é um filme até bem simples na sua composição, mas que se torna memorável quando quem está assistindo é apaixonado pela Disney.
Já falei para vocês o quanto sou fã no texto sobre o curta Era Uma Vez Um Estúdio. Então, obviamente, eu amei Wish! Curti cada segundo e consegui pegar algumas referências que vou comentar com vocês (ok, algumas podem ser delírios meus, mas vou compartilhar assim mesmo).
Começamos logo na abertura, com a cena do livro se abrindo para contar a história, uma coisa estilo contos de fadas que vemos em Branca de Neve e A Bela Adormecida. Além da própria estética do livro e fonte de escrita muito similares aos das princesas clássicas. Aliás, vemos muito das princesas ao longo do filme, mas vamos por parte.
Ainda no início do filme, o Reino de Rosas é mostrado se formando e essa cena achei bem parecida com a abertura de A Bela e a Fera também. Além do fato do castelo se parecer muito com outros castelos clássicos. A parte do reino onde os cidadãos de Rosas vivem também é bem similar ao bosque de A Bela Adormecida. A casa da protagonista, inclusive, lembra muito tanto por fora quanto por dentro!
Asha quer se tornar aprendiz de feiticeira ao lado do Rei, isso faz lembrar o anseio do Mickey no filme Fantasia. Ao chegar no castelo, Asha se reúne com seus sete amigos que são claramente uma representação dos sete anões da Branca de Neve. Um que dorme como o Soneca, um Zangado, um que espirra como o Atchim, uma com jeitinho do Dengoso, um com as orelhas e atitudes do Dunga, uma animada como o Feliz e a sua melhor amiga que é visivelmente o Mestre, até os óculos são iguaizinhos.
O Rei Magnífico possui em seus domínios os maiores desejos de cada cidadão de Rosas e promete realizar um a cada mês. Asha, porém, descobre que, na verdade, o Rei manipula e decide qual sonho deve ser realizado de acordo com sua vontade. Assim, alguns podem nunca ser realizados. Como é o que ele diz que vai acontecer com o sonho do avô de Asha.
A revolução começa a partir daí, com Asha contando para família e amigos sobre a privação das suas conquistas pelas mãos do soberano. Ao cantar com o coração para as estrelas sobre o seu desejo de que haja algo além para todos, a menina acaba por alcançar uma estrela com seu pedido. Afinal, como diz a música do Pinóquio:
Se uma estrela te escolher
Enxergar quem é você
Conte o que no fundo sempre desejou
Se for boa intenção
E vier do coração
Ela vai lembrar do que te inspirou.
A Estrela que vem para realizar os desejos de Asha é a representação de When You Wish Upon a Star, canção de Pinóquio, que se tornou tema da Disney ao longo dos anos. A estrelinha rouba a cena e é, sem dúvidas, a melhor personagem de Wish. É fofa, divertida, corajosa…
Mas, voltando às referências, na cena onde a Asha e Estrela estão se conhecendo, vários animais se juntam para um número musical, incentivando a menina a cumprir seu objetivo (que é enfrentar o Rei e pegar de volta os desejos do povo). Essa cena tem MUITAS referências e bem claras até.
Primeiro temos um coelho cinza que bate repetidamente o pézinho no chão. Lembrou de quem? Ele mesmo, o Tambor, amigo do Bambi. O cervo também aparece, inclusive sendo chamado pelo nome para que não haja dúvida! Temos um Urso chamado João, que me lembrou do amigo do Robin Hood, João Pequeno. Vemos uma coruja que poderia facilmente ser tanto o Arquimedes, de A Espada era a Lei, quanto a Mamãe Coruja, de O Cão e a Raposa. Dois ratinhos também aparecem e não tem como não imaginar que talvez sejam uma homenagem a Bernardo e Bianca, né? E muitos outros..
Além dos animais falantes (e cantantes), há muitos elementos dos filmes mais antigos nessas cenas. Como, por exemplo, as árvores com rostos como em Pocahontas e, até mesmo, em Flores e Árvores, primeiro desenho animado em cores da história. Temos, também, as flores dançando e os cogumelos que cantam acompanhados de um mini cogumelo falante como se fosse uma criança. Esses elementos me lembraram de Alice no País das Maravilhas, só que nesse são as flores que cantam. Todo esse cenário de animais, flores e árvores cantantes lembra muito os clássicos da Disney. Então, podem ser referência a diversos filmes.
Agora sobre o Rei Magnífico, podemos dizer que ele tem uma pegada vilanesca que estava fazendo falta nos últimos anos nas animações da Disney. Ele tem aquele ar narcisista, egoísta, possessivo. Ama se olhar no espelho e ter o controle de tudo e todos, incluindo seus sonhos e desejos. A música tema do vilão This is the thanks I get?! é uma das melhores do filme, quiçá a melhor.
Nos momentos onde ele vai se mostrando como vilão, as cores que o representam começam a mudar e o verde o envolve. E aí entram as referências à Malévola, à Rainha Má e ao Scar. Muito do Rei Magnífico tem um quê dos vilões. Seus trejeitos, suas artimanhas, até mesmo os efeitos especiais de algumas cenas como a fumaça esverdeada. Quando o vilão está fazendo uso da magia proibida, inclusive, dá para ver uma maçã coberta de líquido verde e formando um rosto como a maçã envenenada em Branca de Neve.
Uma outra referência legal que eu peguei foi quando a Asha está tentando colocar seu plano em ação e enganando o Rei o arrastando para a floresta. Lá ela faz uso de uma varinha mágica improvisada pela Estrela e se atrapalha toda. Nessa cena, tem um momento onde ela faz surgir pernas em uma espécie de vagão e fica bem parecido com a carruagem da Cinderela. Além disso, quando ela é encurralada pelo Soneca (sob domínio do Rei) contra um rochedo, parece muito com a cena da Branca de Neve sendo encurralada pelo Caçador que quer pegar seu coração.
O plano dá errado, todos são presos pelo Rei e o povo começa a ver como o soberano é de verdade. No meio da multidão, a Rainha grita contra o marido, algo como um pedido de justiça para o povo. Me fez lembrar da Esmeralda de O Corcunda de Notre Dame que faz esse mesmo gesto de gritar no meio do povo contra o vilão Frollo.
Ao se deparar com o plano todo dando errado e caindo nas garras do vilão, Asha tenta salvar seus amigos e seu povo cantando uma canção para incitar todos a lutar ao seu lado. Começa a dar certo e o Rei fica sem entender o que está acontecendo, mas seus esforços para deter o acontecimento são em vão. A determinação do povo do Reino de Rosas consegue virar o jogo e mostrar que eles são mais do que apenas marionetes nas mãos do seu governante. Uma mensagem bem clássica da Disney de que “juntos, somos mais fortes”.
O Rei Magnífico, narcisista e apaixonado por sua imagem, chega a citar uma frase clássica da Rainha Má (espelho, espelho meu…) e, após a derrota, é aprisionado no espelho. Nesse momento, dá para ver em questão de segundos o semblante do próprio espelho da vilã. O que nos faz pensar que talvez ele seja o rosto no fundo do espelho mesmo, indo além de uma referência.
Outro momento bem legal foi o amiguinho da Asha, o bode Valentino, dizendo que gostaria de viver em uma metrópole utópica onde os mamíferos falam, vestem roupas e vivem como iguais. É praticamente a premissa de Zootopia, não é? Impossível não ter sido uma referência! Assim como a aparição de um rapaz com as roupas do Peter Pan sendo apresentado a uma moça de vestido azul cujo sonho era voar!
Uma outra referência é a capa que Asha usa. É idêntica ao da Fada Madrinha de Cinderela. Muita gente criou teorias que elas seriam a mesma pessoa. Embora seja bem interessante, gosto de pensar que não, pois todo o filme nos leva aos clássicos da Disney e suas características mais singulares, como se fosse um ponto de partida para as histórias que conhecemos, para que todos os contos de fadas pudessem existir ou apenas um vislumbre de como seria o futuro de alguns personagens, do que podem ainda viver com o aprendizado do passado.
E quem sabe se nos ouvirem
Vocês até se inspirem
As nossas forças residem
Lá na nossa história de origem
A Estrela, ao se despedir, passa a mensagem de que vai realizar desejos de outros personagens e transforma Asha em uma fada madrinha para Rosas, com o vestido repleto de brilho e uma varinha mágica de verdade. Se pararmos para pensar, essa capa idêntica à da fada madrinha da Cinderela pode ter passado para sua filha, neta ou aprendiz, não é mesmo? Assim daria seguimento ao ofício de Fada Madrinha dos reinos mágicos.
O fato do avô de Asha, Sabino, estar fazendo 100 anos não me passou despercebido também. Foi uma bela homenagem ao próprio estúdio, já que o maior sonho dele é inspirar as pessoas, como o próprio Walt Disney sempre almejou. O Reino de Rosas foi criado pelo Rei Magnífico como um lugar onde todos os sonhos podem se realizar… te parece familiar? Fizeram questão de mostrar as semelhanças no final do filme, quando a Estrela faz o mesmo movimento que a Sininho faz em volta do castelo da Disney.
O que Wish: O Poder dos Desejos trouxe foi uma belíssima homenagem não apenas para os fãs, mas para a Disney como um todo. Homenagear um legado, tudo que foi criado, tudo que foi transformado e que virou modelo para outras vertentes, tudo que virou história e marcou a vida de todos que viveram esses momentos e ainda vivem. Sejam os profissionais que já passaram pela companhia, quanto os novos, os que virão. Assim como os fãs antigos e os novos. Foi brilhante e lindo de se ver.
Alguns canais e críticos têm resenhado o filme como algo simples, raso, muito abaixo do que a Disney pode produzir. Mas, acredito que Wish não tinha pretensão alguma de ser algo além de uma homenagem, um compilado do que a Disney foi e do que a Disney ainda é. Principalmente, trazendo a beleza dos clássicos de volta à atualidade, onde a galerinha mais nova talvez não consuma mais.
A produção trouxe com Wish toda a magia e beleza do acreditar e nos inspira a não desistir, nem terceirizar ou engavetar e esquecer dos nossos sonhos. Se for sincero e de coração, haverá uma energia em forma de estrela pronta para realizá-los…
Apaixonada por arte, música, literatura e filosofia. Adora a Disney, Harry Potter e Sherlock, além de ser viciada em memes. Ri de tudo, é meio perdida nas ideias, viajante do tempo nas horas vagas, só anda com fones nos ouvidos e ama tudo que é fofinho, inclusive o editor-chefe desse site.