Normal People

Normal People | A complexidade de se contar histórias sobre pessoas

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Nos relacionar com o que assistimos é difícil e depende muito do contexto que nos é apresentado. Normal People consegue isso indo além da barreira do clichê e apresentando pessoas complexas e falhas.

Como vivem as pessoas normais? O cinema e a TV buscam há anos contar a “verdadeira” história das pessoas normais, aquelas que convivem conosco no dia-a-dia. Mas, o que seria essa normalidade? Tudo, obviamente, depende de contexto.

A normalidade é relativa e a encontramos quando conseguimos nos associar diretamente com a ideia que nos é apresentada, então existem diversas normalidades, um certo grupo de pessoas pode considerar pessoas normais aquelas que vivem em mansões em Los Angeles, outras podem considerar quem tem uma vida dita como simples no interior do país.

Por isso, é tão difícil contar historias de pessoas ditas como normais, mas o que Normal People faz é focar em seus personagens e suas complexidades e deixar o contexto financeiro e social de lado, na medida do possível, tornando a história muito mais palatável para uma parcela maior de seus expectadores.

Marianne (Daisy Edgar-Jones), a jovem garota rica, cercada por seus privilégios, mas excluída na escola e considerada estranha. Seus problemas não vêm do dinheiro que a família possui, mas sim da relação com cada membro daquela família.

Como um irmão agressivo que, ao se sentir obscurecido pela irmã, deixado de lado e apagado, repete o comportamento do pai (que não é mais presente) e desconta toda a sua frustração nela e uma mãe apática que não consegue reagir ao comportamento do filho e incapaz de se conectar com a filha de forma mais acentuada. Ou seja, não é sobre os carros, as casas pela Europa e, sim, sobre uma família que foi destruída ao longo dos anos e não consegue se reerguer.

Connell (Paul Mescal), o filho da empregada da família de Marianne, com uma mãe que o ama, popular na escola, cercado por amigos, mas incapaz de se sentir realmente conectado com eles, em busca de sua identidade, perdido, sem conseguir fazer parte de nada.

Na escola, nunca se sentiu completo ou realmente envolvido, na faculdade sente falta da vida no interior e como as coisas pareciam mais fáceis lá. Quando, na verdade, é uma saudade falsa, ligada apenas às boas lembranças, pois não importa o lugar onde esteja ou a família carinhosa a qual pertença (diferentemente de Marienne), nenhum lugar vai lhe proporcionar o sentimento que procura, já que, ao longo da vida, ele nunca realmente se encontrou e se entendeu.

Duas vidas que, olhando superficialmente, são o clichê da televisão. Contudo, quando se conectam, quando suas histórias são contadas ao longo dos anos, tudo se prova diferente. Entre idas e vindas em um relacionamento tão intenso e frágil, que vive se partindo pela incapacidade de Marianne de entender as diversas formas do amor e de como ela busca na violência a resposta, como um vício que adquiriu de sua família e por Connell ser incapaz de realmente se expressar, de se conectar de verdade, de demonstrar seus sentimentos, parecendo estagnado e o tempo todo segurando a respiração.

Essa é a historia de Normal People, a nova série do Hulu e da BBC 3, baseada no livro homônimo de Sally Rooney. Normal People nos conta de forma tão delicada e simples, envolta em uma cinematografia linda, uma direção cativante e  atores espetaculares que se conectam do início ao fim, com uma química que transborda e que invade quem assiste.

Uma série sobre pessoas, pessoas normais e sobre como cada um de nós busca resposta no outro, tentando eternamente preencher um vazio que é incapaz de ser preenchido, nos negando a aceitar que todos nós somos quebrados, que ninguém sai inteiro e ileso da vida e que primeiro precisamos encontrar sentido nessa confusão de pedaços, nos encontrar nessa imensidão que construímos e que construíram pra gente, pra só então compartilharmos quem somos e o que aprendemos com alguém que amamos, na esperança que, mesmo que nos machuquemos com a exposição necessária para se amar, seja uma dor boa, reconfortante, que nos ensina e é capaz de nos tornar pessoas melhores.


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