Jojo Rabbit: Transitando entre a comédia e o drama, Taika mostra o horror e o ridículo de um dos piores períodos da humanidade.
Taika Waititi conquistou o grande público com o ótimo Thor: Ragnarok, conseguindo imprimir seu próprio estilo em um filme da Marvel sem perder a fórmula tradicional do Estúdio. Porém, o diretor já mostrava todo o seu talento para a comédia com filmes como O Que Fazemos Nas Sombras e Hunt for the Wilderpeople. Aqui, ele precisa se provar como um bom diretor de drama também, além de combinar o humor já natural em um tema tão complexo, isso sem se perder no meio. E ele consegue.
Jojo, uma criança vivendo no fim da Segunda Guerra, uma criança nazista, uma criança que tem Hitler como seu amigo imaginário, características complexas que conseguem ser bem trabalhadas ao serem satirizadas, transformando todo esse horror em comédia. Jojo é inocente, ele não entende profundamente o que está acontecendo, não sabe o motivo de ter que odiar judeus além das mentiras que são criadas sobre eles, das fábulas que os transformam em monstros assustadores, tudo vindo da ignorância, do medo daquilo que ele não compreende.
Rir de um momento tão trágico da história pode nos fazer sentir culpados, mas não quando observamos o absurdo do momento, o ridículo que era aquilo tudo, a perseguição, os livros queimados, a ignorância sendo vendida como a última moda. Observar as atrocidades através dos olhos e da inocência de uma criança torna os momentos dramáticos ainda mais fortes.
Acompanhar Jojo enquanto ele cresce, aprende com sua mãe e com novas pessoas em sua vida é gratificante, é aprender que existe esperança no fim de sua jornada, é entender que nenhuma criança nasce preconceituosa, ela aprende a ser.
O Hitler que acompanha o garoto é uma manifestação de toda pressão que ele sofre, de toda a confusão e ideias que o nazismo coloca nele, o que começa como uma “amizade” vai se distanciando aos poucos, enquanto acompanhamos seu amadurecimento forçado, enquanto ele aprende que certos ensinamentos não fazem sentido.
Taika Waititi satiriza e ri dos absurdos da Segunda Guerra, mas não deixa de nos mostrar o horror desse momento para que nunca venhamos a nos esquecer, para que a história nunca se repita. Jojo Rabbit consegue nos fazer rir e chorar na mesma proporção, é um filme único e tocante, cheio de boas lições para ensinar.
Mais um jornalista de cultura pop e otaku nas horas vagas.