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Girassol Vermelho | Adaptação de Murilo Rubião é o “Brazil, O Filme” do Brasil

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Filme de Eder Santos, Girassol Vermelho, entrega experiência com uso inteligente de ferramentas visuais.


Ambição é algo que precisa ser incentivado entre nossos artistas. O conformismo justificado pela intenção é a maior ameaça para o cinema contemporâneo. É o que sustenta a mediocridade e envenena, aos poucos, a tradição dos clássicos enquanto não traz nada de interessante para suprir a falta. O maior expoente recente deste tipo de prática cínica é Emilia Perez, mas não faltam produtos do tipo.

Portanto, é uma felicidade que o diretor Eder Santos (com a codireção de Thiago Villas Boas) mirou nas estrelas para esta adaptação de texto de Murilo Rubião. A narrativa abraça de antemão o clima de realismo fantástico misturando este último conceito com o distópico, claramente inspirando-se em 1984 e suas adaptações (até a nonsense Brazil, O Filme). 



Nele, Romeu (Chico Diaz), está num trem em busca de uma nova vida, porém ao conhecer uma moça vestida de vermelho (Luiza Lemmertz), este tenta abraçar a paixão e acaba sendo capturado por censores deste universo. Durante sua prisão, Romeu vê-se confinado nos próprios pensamentos, sendo confrontado pelas autoridades e pelos próprios desejos interiores. 

No que diz respeito a fotografia e direção no quesito puramente visual, Girassol Vermelho não decepciona. Filmado com o frame extenso de 2.35:1, o filme tem quadros amplos e com elementos espalhados por este (com destaque para o container onde Romeu e a Garota de Vermelho se encontram). A distribuição de atores no quadro é inteligente, aproveitando as extremidades do “scope” (o fotograma amplo) e as cores presentes são expressivas, com destaque ao verde escuro e ao amarelo.

O uso inteligente de ferramentas visuais é louvável, porém tanto o design de produção quanto a disposição do universo presente não trazem nada de muito diferente para quem se acostumou com os mundos distópicos inspirados em George Orwell. 



O mesmo vale para a história, a qual metaforiza sobre um mundo no qual a sexualidade se dilui. É um tema pertinente especialmente num momento em que jovens protestam sobre cenas de sexo em filmes (ironicamente os mesmos não demonstram a mesma revolta com o fato de 98% da música pop moderna ser ultrassexualizada, mas divago), ecoando um sentimento de puritanismo e castidade pós ascensão de Trump perigoso.

O entrave é que o projeto vê essa perspectiva como algo estritamente sensorial, preocupando-se demais com o fator estético da consumação dos atos sem que o que vemos em cena pareça ser de fato o sentimento em sua forma mais intensa. 



É uma abordagem já realizada por Halder Gomes em Vermelho Monet, em que o valor visual suplanta qualquer outro sentido. O sonoro é onde há maior deficiência, pois a declamação dos atores soa excessivamente propagandística, com Luiza Lemmertz sendo a mais prejudicada com sua performance a qual soa mais como ensaio do que sensual. Já Bárbara Paz e Mariano Mattos se saem melhor ao abraçarem as figuras antagônicas em cena. 

Longo para suas menos de duas horas, Girassol Vermelho promete uma experiência visual única e, de certa forma, entrega. Há competência e capricho no que pode ser visto, porém sobre o que pode ser sentido é uma outra história. 

Sinopse:


Girassol Vermelho é um filme inspirado em Murilo Rubião, mestre do realismo fantástico brasileiro, sobre a jornada de Romeu, um homem que deixa seu passado, numa busca pela liberdade.  Por acaso, ele chega a uma estranha cidade onde um sistema opressor e patético, que não permite questionamentos, o arrasta para uma sequência de interrogatórios e torturas. Nesse mundo absurdo, Romeu percebe que perdeu seu maior valor: a liberdade. Cheio de dor e fúria, Romeu, delirante, se entrega a uma nova e ainda mais estranha viagem.

Girassol Vermelho é um lançamento Pandora Filmes e chega aos cinemas em 03 de abril.


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