Mark Steven Johnson sofreu duras críticas ao dirigir Demolidor e Motoqueiro Fantasma no começo dos anos 2000. Mas, nós fomos justos com ele?
Antes de iniciar, já vou deixar bem claro: não haverá comparações com o Demolidor da Netflix. O intuito do texto não é gerar comparativos e sim abrir um debate sobre as produções comandadas por Mark Steven Johnson.
Dito isso, a atual fase das adaptações de quadrinhos não é boa. Até mesmo a poderosa Marvel Studios parece ter perdido seu brilhantismo e apoio dos fãs. Porém, ainda assim, vemos críticas positivas para obras questionáveis e boas bilheterias para produções sem um pingo de identidade. A própria nova série do Demolidor, Born Again, que está sendo desenvolvida pela Marvel Studios, vem enfrentando sérios problemas em seu desenvolvimento, mesmo tendo a volta de Charlie Cox no papel principal.
Isso me fez voltar no tempo, lá no começo dos anos 2000, onde a atual febre dos filmes de quadrinhos começou e nos brindou com boas produções. Após o êxito de Sam Raimi ao dar vida ao Homem-Aranha duas vezes e de Bryan Singer com os X-Men, Mark Steven Johnson teve a missão de transportar o Demolidor das páginas de quadrinhos para a tela grande.
O filme conta com grandes astros de Hollywood, incluindo uma figura que seria de extrema importância para o começo do MCU: Jon Favreau, diretor de Homem de Ferro 1 e 2. Temos Ben Affleck como Matt Murdock, Jennifer Garner como Elektra, Colin Farrell como Mercenário e o saudoso Michael Clarke Duncan como Rei do Crime.
Embalada com uma trilha sonora que vai de Evanescence a Nickelback (puro suco da adolescência de toda uma geração), Demolidor me conquistou na primeira vez que assisti. Os contrastes da Nova Iorque das manhãs com cores quentes e da noite com cores frias têm seu charme, assim como todo o tom do filme.
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Johnson foi muito criticado, assim como Affleck que, mesmo levando seu personagem a sério, não foi poupado das críticas (e sim, já falei mal dele também, não vou me esconder). Hoje vejo que os momentos de canastrices do filme podem ter prejudicado um pouco seu Matt Murdock, mas, se me permitem bancar o advogado agora (Há!), a versão do diretor de Demolidor mostra muito do lado investigativo de Murdock, onde ele resolve um crime usando sua inteligência em uma mistura de habilidades.
O que me faz questionar se a canastrice é realmente culpa de Johnson ou da Fox. Sabemos como a raposinha gosta de se meter, não é mesmo? Além disso, um outro ponto negativo é o uso exagerado de CGI. Dá pra ver que algumas sequências foram claramente inspiradas no Homem-Aranha, mas que não fizeram muito sentido, já que a pegada (e os poderes) eram diferentes. Mas, apesar disso, o filme cumpre bem o seu papel. Demolidor está recheado de referências, boas cenas de luta e uma ótima trilha sonora. E o mais importante: tem sim uma história legal.
Agora vamos avançar um pouco no tempo. O ano é 2007 e temos a conclusão da trilogia do Homem-Aranha de Sam Raimi, a adaptação de 300 de Esparta e ele: Motoqueiro Fantasma.
Novamente, a adaptação de um personagem urbano da Marvel estava nas mãos de Mark Steven Johnson. Se em Demolidor o CGI estava esquisito, aqui eu não tenho do que me queixar. O efeito da caveira em chamas ficou foda legal demais.
Sem querer ser repetitivo, mas já sendo: a história do filme também é boa! E não é nenhum ‘copiar e colar’ de outras origens de super-herói. Motoqueiro Fantasma tem sua própria identidade e um visual que flerta um pouco com o western, até mesmo em sua trilha sonora. Quem lembra da icônica cena entre o Motoqueiro e o Cavaleiro apostando uma corrida pelo deserto ao som de Ghost Riders in The Sky do Johnny Chash? ABSOLUTE CINEMA!
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O papel ficou com Nicolas Cage que, assim como Ben Affleck, também sofreu duras críticas. Porém, como eu adoro Nick Cage e passaria pano para qualquer coisa que ele fizesse (inclusive o Superman), não vou entrar nesse mérito.
O ponto fraco pra mim está no vilão e sua turma. Blackheart não é ameaçador e está longe de ter um visual que seja, no mínimo, parecido com os quadrinhos. Isso não seria um problema se o personagem tivesse presença. Ele até tenta, mas tudo o que consegue é parecer com um vocalista de banda de rock adolescente. Sério, não funciona, mesmo ele sendo extremamente poderoso. Os demônios renegados que fazem parte do seu bando passam pelo mesmo problema, zero tom ameaçador, embora a ideia deles se esconderem nos elementos seja muito boa.
Por outro lado, a figura do Mephisto (TÁ AÍ O MEPHISTO QUE VOCÊS TANTO PEDEM, JÁ APARECEU EM 2007) essa sim é ameaçadora e põe medo, vide a cena em que ele propõe o pacto para Johnny Blaze, a sombra que mostra sua verdadeira aparência arrepia.
Você provavelmente deve estar me odiando por defender dois filmes que são linchados até hoje e tá tudo bem. Mas acho que Mark Steven Johnson foi injustiçado sim ao tentar fazer filmes de quadrinhos em uma época que o grande público não abraçava tão bem essa pluralidade de personagens.
A Marvel Studios tem seu mérito por criar um universo compartilhado que foi atrativo para as massas e deu a ela liberdade para apresentar novos personagens sem medo de fracassar. Se Guardiões da Galáxia fosse lançado no meio dos anos 2000 teria grandes chances de flopar, mesmo o filme sendo bom e você sabe disso.
Para finalizar, faço um convite para que assista esses dois filmes de novo. Provavelmente você fez um gesto negativo com a cabeça e eu entendo do fundo do coração, mas puxe uma lista de filmes de heróis que saíram entre 2022 e 2023 e veja como Demolidor e Motoqueiro Fantasma entram facilmente no top 5 de filmes legais.
Viu, né? Pois é, eu sei que eles entram e você concorda comigo. Abraços.
Publicitário e jornalista que é apaixonado por cultura pop, coleciona tudo que vê pela frente, adora uma piada ruim e ama a revisora desse site.