Stranger Things acerta ao crescer junto com seus personagens, se tornando mais adulta e sangrenta, mas sem perder sua aura divertida e colorida.
Manter o nível e conseguir retribuir a expectativa dos fãs em uma série tão popular quanto Stranger Things não é uma tarefa que pode ser chamada de fácil. A primeira temporada, sem dúvida, foi um fenômeno para a Netflix, ela conquistou milhões de pessoas de forma muito rápida, seja apelando para a nostalgia, o carisma dos atores ou sua história simples e cativante que lembrava os filmes da Sessão da Tarde.
A segunda temporada e Stranger Things provou que manter a atenção não seria fácil. Apesar de não perder o amor conquistado, ela teve que lidar com criticas mais pesadas pela primeira vez, principalmente com o episódio sete, que parece perdido no meio da temporada, o que poderia ter sido uma boa exploração do passado da Eleven acabou sendo mal executado e atrapalhou a fluidez da temporada.
O retorno para a terceira temporada demorou mais que o normal, mas parece ter surgido um efeito positivo, o tempo maior para ajustar o roteiro garantiu que o erro anterior não se repetisse. Dessa vez, os personagens voltam com uma história muito mais redonda e centrada, elementos da temporada anterior foram deixados de lado, como os “irmãos” da Eleven que parecem terem sido esquecidos, o que não faz tanto sentido, afinal uma grande descoberta como essa sequer foi citada ao longo da temporada, mas é algo que pode ser ignorado caso retorne futuramente feito de forma correta.
Algumas mudanças foram visíveis, a maior delas sendo o menor apoio na nostalgia, com menos citações a produções dos anos 80. Ela tenta caminhar de forma mais livre, não que elas não ocorram e de forma óbvia, mas esse respiro foi uma grata surpresa. Criar uma história que se sustente por si só é essencial para o crescimento da série. O roteiro segue sendo simples, com diálogos não muito elaborados, mas esse foi um dos fatores de seu grande sucesso. Não da para crer que isso vá mudar, as crianças, que agora são adolescentes, seguem sendo carismáticos e carregando tudo de forma descente e divertida.
Adolescentes são chatos, isso é um fato. Toda a descoberta, primeiro amor, hormônios, a forma como se veem como donos da verdade e tudo isso está bem representado, principalmente no casal Mike e Eleven, seus dramas e suas idas e vindas, seguidos pelo segundo casal Lucas e Max. Tudo que eles vivem pode parecer bobo através de uma perspectiva adulta, mas podemos facilmente nos relacionar com eles parando para lembrar da nossa própria adolescência, onde todo sofrimento parece grande demais, todo drama é maior do que deveria.
Dentre os outros personagens principais, Will parece perdido, apesar de boas cenas e uma pequena indicação de um futuro promissor, parece que não souberam muito bem o que fazer com o personagem. O núcleo de Dustin e Steve segue sendo o melhor da série, sempre divertidos e aqui eles crescem ainda mais com a adição de Robin e Erica Sinclair, a interação entre eles é algo que renderia uma série própria. Joyce e Hopper continuam sendo adoráveis como o casal número 1 no coração dos fãs, cada cena com eles é um respiro. Nancy e Jonathan tem seu próprio caminho que não tem muito a acrescentar para história principal, os demais personagens cumprem seus papéis da forma necessária com destaque para o Billy Hargrove, como vilão da temporada.
A grande série da Netflix está se expandindo, a partir de agora os caminhos para o crescimento dos personagens é visível, eles se tornam cada vez mais apaixonantes enquanto Stranger Things caminha para o seu fim.
Mais um jornalista de cultura pop e otaku nas horas vagas.