Special

Special | A aceitação começa por nós mesmos

Compartilhe:

Simples, eficaz e delicada, Special cumpre seu papel cômico e crítico.

Special, como diz o próprio titulo, é uma série especial, engraçada e cativante, baseada na vida de Ryan O’Connell que, além de escrever, atua na série. A historia segue a vida de Ryan, um homem gay com uma leve paralisia cerebral. Diferente da maioria das séries que são protagonizadas por personagens LGBTI+, o “problema” do personagem não é sua sexualidade, ele não sente vergonha disso, tanto que a sua “saída do armário” não é um tema a ser tratado, tudo é muito natural quando relacionado ao tema, como deveria ser sempre.

Ryan, tem dificuldade mesmo é de aceitar sua paralisia cerebral, as limitações que ela lhe causa, mesmo sendo de um grau leve, mas ele projeta sua não aceitação nas pessoas a sua volta, então quando resolve começar a viver sua vida e trabalhar em uma agência, ele aproveita o fato de ter sofrido um atropelamento e mente dizendo que suas dificuldades físicas são causadas por esse acidente.

Aos 28 anos, Ryan quer sair, conhecer a vida fora do ambiente seguro da casa que vive com sua mãe, quer trabalhar, morar sozinho e explorar sua sexualidade. A série mostra essas descobertas de forma muito delicada, desde a sua primeira experiência sexual até o seu primeiro amor, passando pelas dificuldades de se viver sozinho e as consequências de ter mentido para os novos amigos.

Apesar de Ryan enfrentar seus dramas, a maior carga dramática fica por conta de sua mãe, Karen (Jessica Hecht), que após viver anos sobre a sombra do filho tem que redescobrir a vida, o amor e, assim como Ryan, viver novas experiências.

Muito do que o personagem sente em relação ao seu corpo tem relação com a pressão estética que é extremamente elevada no mundo LGBTI+. Existe um padrão a ser seguido, não só físico, mas por vezes de comportamento, uma comunidade que foi e ainda é segregada faz o mesmo internamente, nunca se é bom o suficiente e a busca pela perfeição é uma constante.

A série trata disso pontualmente, como na cena da festa da piscina que destaca a cultura por corpos considerados perfeitos e a forma como sua melhor amiga Kim (Punam Patel) lida com isso. A personagem é famosa por escrever textos sobre aceitação do próprio corpo e é interessante ver a forma como ela lida com as pessoas consideradas padrões a sua volta, rendendo várias das melhores piadas da série.

Special é uma série simples, com 8 episódios de aproximadamente 15 minutos cada. Essa simplicidade tem suas vantagens, ela vai direto ao ponto, não perde tempo com momentos que poderiam se arrastar durante vários minutos, além de resolver seus conflitos de forma eficaz, mas também gera problemas, como o desenvolvimento raso de alguns personagens e um final de temporada abrupto.

No fim, ela cumpre seu papel e passa sua mensagem, mas fica aqui o desejo para que em uma segunda temporada esses pequenos problemas possam ser solucionados, seja com alguns episódios a mais ou com o aumento do tempo de duração dos mesmos. Special Está disponível na Netflix.


Compartilhe: