A terceira temporada de DARK finalizou brilhantemente essa que é uma das melhores séries dos últimos tempos e trouxe, mais uma vez, questões filosóficas e sociais em sua concretização.
Depois de duas temporadas incríveis, DARK encerrou sua trama com louvor. Havia muita expectativa quanto a esse fim. O que fariam com a série, com todos aqueles personagens e histórias? Teríamos aquela frustração que ultimamente tem sido comum com as outras séries? Como encerrar, sem desfragmentar, uma narrativa sobre ciclos, eternos começos e recomeços?
Todo medo, porém, foi embora conforme assistíamos a terceira e última temporada de DARK. Tanto foi explicado! Quantas teorias caíram por terra, quantas outras se confirmaram! Eles conseguiram concluir uma história tão emaranhada de uma forma precisa, sem exageros ou delírios. Foi real, verdadeiro e coerente com tudo que a série acreditava. A série impôs, de forma fluida e natural, uma múltipla e complexa filosofia que demostra uma inteligência e sagacidade narrativa impressionante.
A equipe soube equilibrar com perfeição, mais uma vez, conceitos tão complexos. Física, filosofia, sociologia, religião, mitologia… O ser humano foi colocado, novamente, como o centro de tudo e suas motivações, seus desejos, sentimentos e natureza foram impecavelmente trabalhados. Além de entendermos que o dualismo é relativo, bem como tudo que o representa.
A dicotomia das relações humanas, da natureza, do mundo por si só e todo nosso entendimento quanto a isso também é questionado. Há um esforço para fazer valer tudo que foi dito anteriormente nas outras temporadas. Frases e palavras que foram ditas no passado, dessa vez, fazem ainda mais sentido.
Foi um trabalho primoroso. Cada detalhe do segundo mundo foi preparado com precisão. Tudo foi, de alguma forma, espelhado, tornou-se diferente, porém igual. A produção não pecou em momento algum. A beleza da série, da cidade, sua luz, suas trevas, sua personalidade ainda estavam lá. Embora, não pudéssemos entender com clareza, nos deslumbramos com o que era mostrado.
A cada episódio, uma nova descoberta, um novo ponto ou o fechamento de outros. Personagens, antes coadjuvantes até mesmo de suas próprias histórias, dessa vez ganham importância e protagonismo e percebemos como nada foi em vão, como cada um ali tinha um propósito.
Vimos que a dupla Baran bo Odar e Jantje Friese ousaram desenvolver muito mais do que apenas uma série sobre viagem no tempo. Foram muito além. O que conseguiram criar com tamanha excelência é algo histórico e digno de muitos aplausos. A forma como questionamos cada situação, como nos envolvemos com os personagens, como aprendemos sobre a complexidade do tempo, o universo e suas particularidades, assim como a beleza da individualidade da natureza humana e sobre o livre-arbítrio.
“O homem é livre para fazer o que quer, mas não para querer o que quer” (Arthur Schopenhauer)
A terceira temporada começa com a frase desse filósofo alemão que era extremamente pessimista em relação à vida e ao amor. Talvez, a melancolia trazia pela crença de que o sofrimento é um estado natural do ser humano e a repetição contínua de que tudo está, de alguma forma, conectado tenha nos deixado com a falsa impressão de que o tempo é imutável, que nada poderia ser diferente do proposto. Temos, então, um debate social e existencialista estruturando toda a narrativa da série. Porém, para Descartes e Platão, não podemos confiar cegamente nas nossas percepções e, em DARK, a própria percepção de realidade é mutável.
DARK foi planejada para ter apenas as três temporadas e, com isso, sua trama foi desenvolvida para concluir o proposto. Todo conceito teórico de paradoxos científicos e filosóficos foi trabalhado de forma consciente. A escolha por comparar a sobreposição de realidades ao gato de Schrödinger mostra que os roteiristas sabiam como deveriam trazer o final da trama. A inquietante Triquetra, unindo os planos físico, mental e espiritual, também foi introduzida a fim de nos mostrar o que estava por vir. Tinha uma explicação para todo o mistério de Winden.
A complexa teia de aranha que a viagem no tempo-espaço é capaz de criar foi retratada, desde o começo, como o labirinto de Ariadne, igualmente guiando seu amor com um fio vermelho. Assim, nos vimos sendo guiados por um fio invisível durante todo esse período, nos envolvemos tanto quanto os personagens nesse enorme emaranhado de decisões, sentimentos e conflitos externos e internos.
Concluo que o tempo, a humanidade e o amor foram os protagonistas dessa história excepcional. A música que envolve a série em diversos momentos, inclusive no fim da terceira temporada, nos traz a esperança de que o amor sempre encontra seu caminho, não importa onde, nem quando.
“Caindo no espaço e no tempo
Rumo ao infinito
Mariposas voam para a luz
Assim como você e eu
De alguma forma, em algum momento
Em algum lugar o futuro começará
Eu não tenho que esperar muito
O amor é feito de coragem”
Irgendwie, Irgendwo, Irgendwann – Nena
(De Alguma Forma, Em Algum Lugar, Em Algum Momento)
Apaixonada por arte, música, literatura e filosofia. Adora a Disney, Harry Potter e Sherlock, além de ser viciada em memes. Ri de tudo, é meio perdida nas ideias, viajante do tempo nas horas vagas, só anda com fones nos ouvidos e ama tudo que é fofinho, inclusive o editor-chefe desse site.