Watchmen: Assim como o quadrinho escrito por Alan Moore trouxe questões políticas e sociais da época, a série da HBO não se esconde ao tratar de assuntos referentes ao nosso tempo.
Se tem um assunto que rende polêmica, esse assunto é Watchmen. As continuações e prelúdios nos quadrinhos e a versão cinematográfica comandada por Zack Snyder dividem opiniões. Alan Moore, o criador da obra, é totalmente contra qualquer tipo de sequências e adaptações e faz questão de que seu nome não seja sequer mencionado nos créditos das produções.
Afinal, é Watchmen, uma das HQs mais celebradas e importantes de todos os tempos. Portanto, não é difícil de imaginar se houve ou não uma desconfiança relacionada à série de TV da HBO. Mesmo ela sendo idealizada por Damon Lindelof, criador do muito elogiado The Leftovers.
Lindelof deu poucos detalhes durante a produção e os teasers esconderam bem o jogo, o que nos deixou intrigados. Lindelof planejou uma trama com 10 episódios que não deixam gancho para uma continuação, embora ele não descarte retornar para uma segunda temporada no futuro. A série é uma continuação direta do quadrinho e vemos que o mundo mudou bastante após os atos de Adrian Veidt, o Ozimandias, aqui interpretado por Jeremy Irons.
É muito legal que a série tenha respeito à obra original, afinal ela é canônica, mas que não se prende à ela para contar sua história. A trama se passa em Tulsa, uma cidade que fica no estado de Oklahoma, o que já diferencia e muito da ambientação do quadrinho que tem Nova Iorque como palco principal. Essa mudança de cenário faz bem, pois nos tira de uma zona de conforto já acostumada com tramas em cidades badaladas.
E por falar na trama… uau! Temos um grupo de extremistas raciais que acreditam na supremacia branca. É basicamente uma Ku Klux Klan que utiliza a imagem do vigilante Rorschach como símbolo. O discurso de ódio que o grupo difere é um retrato de toda a ignorância vivida nos dias atuais. Se acha que estou exagerando, basta ver o que houve recentemente nos jogos eliminatórios para a próxima Eurocopa, onde alguns torcedores da Bulgária fizeram gestos nazistas em direção aos jogares negros da Inglaterra. Os estádios de futebol estão sempre presenciando atos de ódio e de racismo, coisas que nada tem a ver com o esporte.
O tema é atual e precisa ser debatido, mesmo que parte da comunidade “nerd” não queira. A série vem sofrendo com avaliações baixas por parte dos “fãs” que não gostaram do racismo estar em pauta. Afinal, qual o problema em discutir esse assunto? A quem diga também que a série não deveria tratar de questões políticas. Bem, recomendo que leia o quadrinho novamente, pois se você pensa assim é porque leu errado.
Sobre a produção em si, não há o que reclamar. A HBO sabe entregar conteúdo de qualidade (quando quer). O elenco, comandado por Regina King, é igualmente espetacular. Regina entrega uma personagem que mostra sensibilidade, mas que também sabe ser durona e fria, principalmente quando coloca a máscara.
Vou pegar esse gancho para finalizar o texto, pois isso é algo que também vale a pena comentar. Por questões de segurança, todos os policias utilizam máscaras e escondem sua verdadeira identidade. É como se todos fossem vigilantes que fazem parte da lei. Bem, isso lembra a pergunta: quem vigia os vigilantes?
Me arrisco a dizer que, ao final da série, Watchmen conseguirá causar um impacto tão grande quanto o quadrinho causou na década de 80. A série é exibida pela HBO aos domingos às 22h e está disponível no HBO GO.
Publicitário e jornalista que é apaixonado por cultura pop, coleciona tudo que vê pela frente, adora uma piada ruim e ama a revisora desse site.