Escrita e desenhada por Felipe Coutinho, o Limão mais velho, HQ Quadrinhos Azedos aborda temas sensíveis de uma época sombria não tão distante e nos faz refletir sobre a dádiva que é estar vivo.
Que coisa maravilhosa é a arte, não é mesmo? Ela é capaz de nos transportar para diferentes lugares, nos tirar de nossa realidade e nos fazer mergulhar em um mundo fantástico onde o impossível se torna possível. Mas, também, pode nos fazer ficar onde estamos e nos trazer reflexões poderosas do dia a dia.
Quadrinhos Azedos mexe comigo de uma forma diferente. Conheço Felipe há 25 anos, praticamente a minha vida inteira (hoje temos 32). Ler um quadrinho onde o personagem é ele mesmo me traz conforto. É como se ele estivesse ao meu lado conversando, inclusive, imagino sua voz ao ler os balões.
O quadrinho, que é autobiográfico, foi produzido durante a pandemia e nos transporta para um passado recente. Onde o medo de sair às ruas para ir ao mercado nos consumia ferozmente, assim como o medo de perder nossos entes queridos.
Estando perto ou longe, todos nós temíamos que o pior pudesse acontecer. Ainda mais quando víamos conhecidos partindo e outras centenas de milhares ao redor do mundo. O jornal se tornou obituário e Felipe conseguiu trazer todo esse sentimento para as páginas de Quadrinhos Azedos com uma sensibilidade que só ele conseguiria.
Outro ponto que ele toca em suas páginas é a nossa relação com aqueles que convivemos. As relações humanas passaram por grandes dificuldades, seja pela distância ou pela proximidade. O que nos faz refletir, pois esperávamos sair melhores dessa crise, mas parece que pioramos dez vezes mais. O mundo que parecia unido para arrumar uma solução é o mesmo que inicia guerras. Não dá para entender.
Sim, este quadrinho desperta isso tudo dentro de mim, pois é como se meu amigo estivesse desabafando comigo. E pode despertar isso tudo em você também, porque eu tenho certeza que você teve essa conversa com seus amigos ou familiares.
O cotidiano mostrado aqui é o nosso. É a gente sofrendo com os noticiários, com a saudade e o medo da perda. É uma declaração de que a gente conseguiu sair dessa, mesmo com todas as adversidades e cicatrizes, que para algumas pessoas nunca irá parar de doer.
Quadrinhos Azedos traz outras histórias de Felipe Coutinho, como Tempo Acúmulo, que já falamos sobre e você pode ler AQUI e também Benjamin, um quadrinho muito experimental, onde Felipe faz, assim como em Tempo Acúmulo, uma referência a Dave McKean. Além disso, temos mais algumas histórias curtas.
Quadrinhos Azedos nos faz lembrar que por mais que o ser humano sinta esse prazer em destruir uns aos outros, ainda somos capazes de gerar empatia, somos capazes de nos unir para salvar vidas, por mais que algumas pessoas tenham a cara de pau de negar os fatos, mesmo que eles estejam na cara.
Você pode adquirir Quadrinhos Azedos diretamente com Felipe, acessando sua loja, clicando AQUI. São 88 páginas no tamanho 14x21cm, divididos entre preto e branco (a maior parte) e colorido.
Publicitário e jornalista que é apaixonado por cultura pop, coleciona tudo que vê pela frente, adora uma piada ruim e ama a revisora desse site.