sonho-febril-capa-topico-42

Sonho Febril | Uma História de Amizade em Meio à Opressão

Compartilhe:

George R. R. Martin demonstra, em Sonho Febril, que merece ser celebrado para além de suas obras mais conhecidas.


Antes de publicar sua obra mais célebre, A Guerra dos Tronos, George R. R. Martin lançou, em 1982, uma aventura sobre vampiros, na qual conhecemos Abner Marsh, um barqueiro falido passando por dificuldades financeiras. Ele vê uma chance de salvação quando Joshua York, um homem jovem de cabelos brancos, o procura para firmarem uma sociedade e construírem o melhor e mais luxuoso barco a vapor da região. Em troca, York pede apenas que seus comportamentos “estranhos” não sejam questionados.

Martin cria, com Sonho Febril, sua própria mitologia de vampiros, abandonando os clichês mais populares — embora os utilize de forma muito inteligente dentro da história. O mundo apresentado é bem embasado, rico e cuidadosamente explicado. A escrita, sempre muito descritiva, pode parecer maçante para alguns, mas contribui para a imersão e para a compreensão dos personagens, que são muito bem desenvolvidos.

sonho-febril-capa



Ambientar a história na região do rio Mississippi, especialmente em Nova Orleans, cria uma constante sensação de incômodo, típica dos dias quentes que o local oferece. O calor é opressor, e essa opressão pode ser sentida pelo leitor. A trama de Sonho Febril se passa antes, durante e após a Guerra de Secessão — a grande Guerra Civil Americana, iniciada em 1861 —, o que também contribui para essa atmosfera. Martin utiliza o contexto da abolição da escravidão para criar paralelos com seus vampiros.

Acima de tudo, Sonho Febril é um livro sobre amizade. Comumente, histórias do tipo tendem a apresentar uma mocinha inocente que se apaixona pela criatura imortal. Aqui, o caminho é diferente: a relação entre o capitão rude e mais velho, Abner, e o delicado Joshua é o que conduz o fio narrativo. Ver esse homem bruto, aos poucos, entender as motivações do outro, ser apresentado à literatura e à poesia e se transformar é mágico — da mesma forma que sua personalidade impacta e muda a vida de Joshua, que também tem muito a aprender com o velho barqueiro.

Sonho Febril tem seus vilões, seus dramas e suas grandes cenas de ação, mas são os humanos que a narrativa acompanha que oferecem o toque especial necessário para diferenciar essa história de tantas outras. A humanidade e suas complexidades são mais fortes que as criaturas imortais. George R. R. Martin já mostrava aqui o quão habilidoso é como escritor e como seu talento merece ser apreciado muito além de suas obras mais conhecidas e aclamadas.


Compartilhe:

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *