Embora Wicked não seja perfeito, há algo nele que pode torná-lo um novo clássico.
Um dos musicais mais amados do mundo, a adaptação de Wicked para o cinema enfrentou uma tarefa complicada desde o início. Foram anos de desenvolvimento, mudanças na equipe e diversos ajustes antes das filmagens, o que culminou na decisão de dividir o filme em duas partes. Essas dificuldades geraram uma aura de dúvida em torno do projeto, mas, para alívio dos fãs e dos apreciadores de bons filmes, Wicked é quase perfeito.
Adaptar um produto já existente é sempre desafiador – seja um livro, um jogo ou, neste caso, um musical. Muitos tentaram e falharam antes. Contudo, o filme encontra o sucesso ao se manter fiel ao material original, realizando pequenas mudanças que tornam a história mais substancial e preenchem lacunas, garantindo uma fluidez maior à narrativa. Outro acerto do diretor foi evitar a tentação de exagerar nos números musicais apenas por ter o poder de fazê-lo. Ele opta pela simplicidade, permitindo que os personagens expressem suas emoções de forma genuína e focando no essencial.
Não existiam dúvidas sobre a capacidade de Cynthia Erivo (Elphaba) quando a atriz foi escolhida, não só por sua capacidade vocal, mas também por sua habilidade de entregar ótimas atuações. Sua Elphaba é fácil de reconhecer e de amar; ela se entrega à sua personagem tanto nos momentos em que reprime seus sentimentos quanto nas grandes explosões emocionais.
A grande surpresa do filme fica por conta de Ariana Grande (Glinda); nem os mais fieis fãs da cantora poderiam esperar um trabalho tão espetacular, com um timing cômico perfeito, suas reações quando não é o foco da cena e seus momentos de vulnerabilidade. O carisma de Ariana e sua química com Cynthia transbordam: o filme é delas. Outro bom destaque é Jonathan Bailey (Fiyero), que interpreta seu personagem de forma caricata na medida certa, vazio e apaixonante.
A principal crítica que se pode fazer ao filme diz respeito à escolha das cores. O diretor opta por uma paleta mais desbotada, adotando uma abordagem “realista” para um mundo mágico. Isso acaba sendo decepcionante, especialmente considerando a importância do uso do technicolor em O Mágico de Oz para a história do cinema. Oz, como universo, não deveria buscar o realismo, mas sim abraçar o fantástico em cada detalhe.
No geral, Wicked é encantador, divertido e emocionante. É um trabalho feito com paixão por todos os envolvidos. A história, que já era amada por tantos, agora tem a chance de conquistar ainda mais corações. O tempo dirá se estamos diante de um futuro clássico.
Mais um jornalista de cultura pop e otaku nas horas vagas.