O novo filme do Thor tem o coração no lugar certo, mas peca bastante na jornada do deus do trovão.
Dentre os Vingadores originais, Thor, ao lado do Hulk, foram os únicos que passaram por uma “correção de rota” em suas narrativas. Enquanto o golias esmeralda de Edward Norton era carrancudo e com um visual muito mais animalesco, a versão de Mark Ruffalo seguiu por um lado mais bem humorado e aproximou o personagem do espectador.
Já o poderoso Thor não passou por um recast e o personagem, que era um patinho feio, tanto nos seus dois filmes solos quanto em Vingadores 1 e 2, ganhou uma vida completamente nova com a chegada de Taika Waititi, que o transformou de fato no deus do trovão em Thor Ragnarok. Foi uma bela evolução.
Tivemos um novo Thor nos filmes seguintes dos Vingadores que protagonizou cenas épicas, como a chegada em Wakanda, e emocionantes quando o mesmo volta no tempo e vê que ainda é digno de empunhar seu martelo.
Eis que temos o principal problema de Thor: Amor e Trovão. Ao olhar esse passado recente, temos um personagem novo neste filme, só que, ao contrário de Ragnarok, agora temos uma regressão. Thor, que já foi rei de Asgard, se atrapalha até em um discurso para seu povo.
Esse problema fica evidente quando vemos todos os personagens a sua volta destoando de seu tom bobo, como a própria Poderosa Thor, que é o principal destaque do filme. Natalie Portman tem um arco forte e emocionante. Ela é o coração e, mesmo que tenha senso de humor, não é algo exagerado. Por sinal, nas cenas em que os Thors estão juntos, é quando vemos Chris Hemsworth mais contido.
E não, não estou sendo ranzinza. O humor quando funciona vai muito bem obrigado. Os bodes roubam a cena quando aparecem e o ciúme que Rompe Tormentas tem do Mjolnir, quando Thor tenta se reaproximar de seu antigo martelo, é fantástico.
Ainda sobre as coisas boas do filme, temos Christian Bale como Gorr, o carniceiro dos deuses. Seu personagem é assustador e tem uma ótima motivação. Mas, infelizmente, vemos pouco dele. Temos muitos vislumbres de seus atos, mas pouco dele em ação. O vilão seria muito mais amedrontador se o víssemos, de fato, sendo o carniceiro dos deuses.
Falando mais um pouco sobre o arco da Poderosa Thor, Natalie Portman fez um belo retorno ao Universo Marvel. Jane Foster demonstra uma força que vai muito além dos músculos e dos trovões, ela vem da alma. A Poderosa Thor protagoniza as melhores cenas de carga dramática e ao lado de Gorr, são as melhores coisas do filme.
Amor e Trovão anda em uma corda bamba de erros e acertos. Te faz rir, mas a risada tem um custo. A impressão que fica é que poderia ter mais tempo para mostrar mais coisas e o tempo que foi utilizado não levou a lugar nenhum. Contudo, apesar das trapalhadas de percurso, o final é satisfatório e por incrível que pareça te faz querer ver o que vem por aí.
Publicitário e jornalista que é apaixonado por cultura pop, coleciona tudo que vê pela frente, adora uma piada ruim e ama a revisora desse site.