Terrifier 3, nova aventura diabólica do palhaço Art, não vai decepcionar os fãs conquistados pelas anteriores.
Dentro do gênero terror, nenhum subgênero mostrou-se tão resistente e prolífico quanto o slasher. Tendo sua tradição atribuída a Halloween, de 1978 (ainda que O Massacre da Serra Elétrica siga convenções similares, a busca incessante por seguir a fórmula veio com o filme de John Carpenter), este consistia em um grupo de jovens sendo um por um assassinados por um personagem o qual não-raramente tornava-se mais popular do que a qualidade de seus longas.
Com o sucesso de Halloween e seu Michael Myers vieram Jason Voorhees, Freddy Krueger, o boneco Chucky e uma seleção de malvados carismáticos e intimidadores. O grande problema é que raramente estes longas mostravam-se preocupados com atmosferas, personagens ou gore (sangreira) satisfatórios.
Geralmente bastava uma hora e dez minutos de muita encheção de saco e linguiça até algumas cenas rápidas de violência anticlimática (praticamente todos os Sexta-Feira 13 seguem isso à risca). Por sorte Freddy contava com a criatividade dos realizadores utilizando seu conceito e Chucky com o carisma inabalável tanto de seu criador quanto do personagem.
No momento, o subgênero está em alta com franquias em andamento (até Alien entrou nessa seara) ou com longas metidos a alto conceito (X, Noites Brutais). Um dos maiores destaques mostrou-se a franquia Terrifier, de Damien Leone. De um filme de orçamento magrinho e pouquíssimos recursos, agora os massacres estrelados pelo palhaço Art contam com sua mitologia, sua heroína e uma marca indelével: a brutalidade visual.
Na nova trama, Art (David Howard Thornton) consegue recuperar seu corpo após os acontecimentos no filme anterior (só vendo para acreditar), e decide vingar-se de Sienna (Lauren LaVera). Cinco anos depois, esta última recebe alta após uma estadia em uma clínica psiquiátrica, passando a viver na casa de seus tios enquanto seu irmão mais novo, Jonathan (Elliott Fullam), agora um universitário, tenta fugir ao máximo de seu passado.
Dedicando os dez primeiros minutos a uma sequência divertida envolvendo Art se recompondo, o diretor mostra-se tão apreciador do próprio universo que, além de fazer questão de justificar o retorno do palhaço, não demora nadinha a abraçar a violência absoluta a qual marcou os longas anteriores.
A escalada gradual em orçamento nestes filmes mostra o milagre que um diretor criativo consegue fazer com apenas dois milhões de dólares: O design de produção o qual é retratado de forma espaçosa nos 2.39:1 escolhidos de aspecto (com os pontos de pouca luminosidade sendo extensamente explorados pelo diretor para desenvolver tensão) só rivaliza com a criatividade dos efeitos de maquiagem.
Concebendo diversas formas de desmembramentos, faces se desfazendo, entre outras bizarrices, o departamento de maquiagem e prostéticos liderado pelo mesmo Jackie Hughes é exibido em toda sua glória por Leone, o qual diverte-se a valer com a sanha assassina de Art, o Palhaço.
Palhaço, cujo contraste entre as divertidíssimas expressões corporais e faciais de Howard Thornton e a violência descontrolada de suas ações, o qual estabelece-se ainda mais como um assassino slasher digno de respeito. Sua parceira, Victoria Heyes (Samantha Scaffidi), também dá as caras (trocadilho?) novamente aqui, com ambos os vilões tendo atuações ameaçadoras e carismáticas na medida certa.
Quem não se preocupa com os limites da violência gráfica (cujo absurdo pode servir como escape contra o choque) não vai encontrar grandes problemas com uma produção cuja tensão e bom ritmo conseguem prender por duas horas sem problemas. A construção de universo pode ser um fator de divisão, com a mitologia envolvendo a protagonista (interpretada novamente de forma carismática por LaVera) sendo um pouco mais adentrada aqui. Quem procura apenas diversão escapista talvez encontre erros e conveniências neste segmento narrativo. O final também pode gerar algum incômodo por sua preocupação com preparação de terreno para o futuro.
Por sorte, os cansados da preguiça ou da pretensão da modernidade podem respirar aliviados: Terrifier 3 sempre está disposto a aumentar a aposta no riso de desconforto e no grotesco. Para os apreciadores de terror, de slasher e de um gore exageradíssimo, a nova caçada do palhaço silencioso certamente vai agradar.
Mas há de se lembrar que o grau de violência aqui é tão extremo que preferiram não passar o filme por classificação indicativa nos Estados Unidos. Houve um casal o qual abandonou a sessão na sala onde acompanhei (e havia pouca gente no total). Vá preparado para vísceras, sangue num grau que deixaria Jigsaw de boca aberta.
Terrifier – Sinopse
Leone e o ator David Howard Thornton se reencontram para mais uma parceria em Terrifier 3. O longa se passa cinco anos após o término do segundo filme da franquia. O filme faz parte de um universo que vai muito além da trilogia protagonizada por Thornton. O curta The 9th Circle, parte da coletânea All Hallows Eve, foi quando o palhaço ganhou corpo, conforme o ator Mike Giannelli, o primeiro intérprete de Art, apresentou alguns de seus maneirismos e personalidade.
Terrifier 3 é distribuído pela Diamond Films.
Terrifier 3 – trailer
Mesmo trabalhando na área de educação, estuda e escreve sobre cinema desde os treze anos. Mesmo vendo muita coisa fora de Hollywood, não é hater de blockbusters (nunca deixa de ver um Velozes e Furiosos quando lança). Ama também ler e jogar videogame. Apenas evita comédias românticas e livros de auto ajuda.