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Oscar 2024 | Qual será o melhor filme?

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Dia 10 de março conheceremos os grandes vencedores do Oscar 2024. Saiba mais sobre os filmes que estão concorrendo na categoria principal.

Além do carnaval e do Big Brother, há um celebrado evento em andamento na porção inicial de cada ano: O Oscar. Trata-se de uma premiação capaz de gerar reações entusiasmadas e também furiosas, de gerar filmes os quais vivem apenas para serem aclamados ali, de estabelecer campeões previamente adorados pelo público e, também, de trazer à luz certas jóias raras. 

A cada ano, a premiação tenta se reconectar a um público o qual não se engaja de forma tão prestigiosa até mesmo quando comparado a 2004, quando o último recordista de premiações consagrou-se, tratando-se de um dos maiores bastiões da cultura geek, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei. Será 2024 tempo de conciliação de interesses dos velhinhos da indústria com o público casual ou outro ano em que a apreciação popular fica para terceiro plano?

Para começar, vale a comparação dos indicados deste com ano passado. Em 2023, o campeão supremo foi Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, excepcional aventura de ficção científica a qual conseguiu o feito de agradar aos fãs de super-heróis e aos votantes, arrebatando, junto de Melhor Filme, outros seis prêmios.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, o grande vencedor do Oscar 2023.

Em seu redor, havia outros concorrentes de peso: Tár, Os Fabelmans e Top Gun Maverick foram escolhas acertadas e ecléticas. Não menos respeitáveis eram os bons Os Banshees de Inisherin, Avatar: O Caminho da Água, Triângulo da Tristeza e Nada de Novo no Front

Por sua vez, Elvis era uma cinebiografia regular, porém de forma alguma preguiçosa. O grande embaraço foi a indicação de Entre Mulheres, o filme sobre mulheres confinadas numa sociedade arcaica e agrícola (pense em A Vila ou A Bruxa) no qual todas estas se comunicam como se fossem a mesma pessoa e, mesmo sem ter aparente instrução teórica ou nem sequer saberem ler, comunicam-se como se todas estivessem num debate universitário acalorado sobre o movimento “Me Too”. Tratava-se de uma lista com o extremo tanto de qualidade quanto de picaretagem.

A situação em 2024 é consideravelmente distinta, contando com uma lista de nove bons filmes e apenas um o qual considero de fato excepcional. Claro, a partir do momento em que um produtor conseguiu compilar todos os elementos os quais possam fazer o espectador sentir-se cativado pelo seu projeto, o quão bom este pode ser vira uma questão subjetiva e, logo, há de se respeitar a seleção feita. 

Trata-se de uma premiação política e corporativista e, portanto, inúmeros projetos de 2023 os quais de fato mereceriam aclamação do prêmio principal não o conseguiram (Monster, Godzilla Minus One). Sendo os selecionados com visão artística e execução apropriada, não há muito o que se reclamar.

O diretor Takashi Yamazaki ao lado de seu Godzilla.

Quem leva o Oscar de melhor filme?

A começar, Barbie e American Fiction são comédias cuja sustentação vem do carisma de seus atores e por situações divertidas: do dilema existencial de um à busca por autenticidade literária de outro. 

Sempre que um destes tenta adentrar à complexidade (do monólogo de America Ferrera no primeiro ao tradicional conflito familiar de outro), acaba perdendo parte de seu valor cômico e colocando mais na boca do que pode mastigar. Não é o suficiente pra tirar o brilho de nenhum dos dois, felizmente.

Assassinos da Lua das Flores e Zona de Interesse lidam com a visão do capanga de vilão perante o genocídio. Ambos são trabalhos artesanais que optam por um ponto de vista tradicional. Se é a escolha mais apropriada para ambos os dilemas (o extermínio indígena em um, o martírio judaico em outro) cabe uma discussão, mas são bons filmes que penam pra irem além de suas premissas.

Martin Scorsesse e Lily Gladstone nos bastidores de Assassinos da Lua das Flores.

Aí vem o provável campeão da noite: Oppenheimer. Projeto ambicioso de Christopher Nolan, é amparado por duas grandes atuações (e, portanto, dois favoritos para prêmios de ator e de coadjuvante), por preciosismo técnico e pela ambição estrutural de sua trama, a qual favorece tanto prêmios de roteiro quanto de edição. 

Mesmo apreciando o esforço, me daria por satisfeito com menos conversas sobre relações amorosas frustradas e filiações partidárias as quais pouco importam para a trama. A tensão construída por Nolan através do isolamento de seu protagonista perante um mundo imenso tanto horizontalmente nos momentos de audiência em preto e branco quanto na verticalidade da concepção da bomba atômica seria mais que o suficiente para uma obra-prima terrorífica. Inegavelmente agradou à maioria e deve ser o vencedor.

Christopher Nolan e Cillian Murphy no set de Oppenheimer.

Os Rejeitados e Maestro, por sua vez, têm êxitos distintos: o primeiro conta com uma história seminal de crescimento pessoal, com grandes atuações de Paul Giamatti (que concorre com Cillian Murphy para a vitória como ator principal) e Da’Vine Joy Randolph (dificilmente perderá como atriz coadjuvante) sem grandes novidades e o segundo com uma abordagem de direção ambiciosa sem um roteiro para firmá-la como merece. O entusiasmo com o qual Bradley Cooper utiliza-se de diferentes aspectos de tela, da horizontalidade do Leonard Bernstein idoso e liberto de certos estigmas sociais à estreiteza da abordagem clássica do protagonista jovem é contagiante, todavia colide com a estrutura episódica e os diálogos irregulares.

Quase completando o pódio, Pobres Criaturas brilha ao usar truques do arsenal de cinema alternativo (verticalidade, estilos visuais contrastantes para situações distintas) não visando chamar atenção para a habilidade de seu diretor e, sim, abraçar a comédia sem reservas. É um filme de entretenimento para adultos que sabe perfeitamente o que quer ser, pavimentando assim a jornada heróica de Emma Stone (favorita a Melhor Atriz) rumo à autonomia. 

Yorgos Lanthimos e Emma Stone em Pobres Criaturas.

Vidas Passadas compensa sua curta duração com o peso de uma desilusão amorosa. Levando em conta a temática justamente de como relações podem iniciar tanto do impulso afetivo quanto da praticidade, o roteiro é mínimo e a direção é máxima, com a diretora movimentando e posicionando seus atores de forma a ilustrar visualmente as personalidades retratadas e os rumos por estas abraçados. 

Se o conceito de “blocking” (o posicionamento de atores e sua movimentação no enquadramento) fosse devidamente respeitado pelos votantes a Melhor Direção, todos estariam questionando a ausência de Celine Song nesta categoria, porém este simples drama não conseguiu o engajamento de Barbie nas redes sociais, tendo tido prestígio em festivais de cinema mundo afora, mas sem sustentá-lo no Oscar. Um dos melhores filmes da categoria principal e infeliz candidato a sair sem nada na noite.

Todos bons filmes até aqui, no entanto, apenas um para mim seria merecedor de ser chamado um dos melhores da década: Anatomia de uma Queda. Drama procedural, tem uma trajetória brilhante em seu roteiro ao compor seu primeiro terço majoritariamente de diálogos práticos (como o incidente-título se deu, quem eram os possíveis envolvidos) para, aos poucos, revelar o lado analítico de seus personagens.

A direção, a qual coloca sua protagonista sempre em frente a escadas e a degraus de modo a estabelecer metafórica e visualmente a sombra da investigação, é menos interessada em apontar culpados em tempos de cancelamento, deixando seus personagens brilharem pela humanidade. É uma narrativa exigente e, ao mesmo tempo, catártica. Tem chances na categoria de Roteiro Original, merecidamente.

A diretora Justine Triet venceu a Palma de Ouro no 76º Festival de Cinema de Cannes por Anatomia de uma Queda.

Em conclusão, uma lista digna: se por um lado não traz mais do que um filme excepcional, tem uma seleção de projetos em que visivelmente houve cuidado e coesão de seus realizadores. Num momento de escrutínio do modelo de produção de toque de caixa, dez produções feitas com o mínimo de carinho são, como diria o urso Balu, “Somente o Necessário”.


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