Lançamento italiano dialoga devidamente com geração acostumada a estímulos e discursos motivacionais.
Dando uma pausa nos conteúdos competitivos da temporada de Oscar, há de se abrir espaço para O Primeiro Dia da Minha Vida, drama de Paolo Genovese previsto para estrear no Brasil após uma temporada em festivais e exibições. Com uma temática edificante, trata-se de entretenimento competente, feito sob medida para públicos oriundos dos anos 2020.
Na história, cinco indivíduos os quais tiveram experiências com o suicídio passam por um período de sete dias habitando o mundo humano enquanto espectadores. Um ser espiritual, enquanto isso, dá a estes uma nova chance para que pensem na consequência de suas ações e se, de fato, desejam encerrar ou retornar às suas vidas.
Como pode ser notado, trata-se de uma temática a qual é frequente nos ciclos sociais há pelo menos uma década: a saúde mental. Sendo o ato suicida considerado um “gatilho”, um tema perigoso para ser debatido, busca-se sensibilidade para uma abordagem acerca deste.
Logo, o roteiro faz uso de cinco figuras quase arquetípicas, dentre estas a mãe de família em luto pela perda da filha, a jovem deprimida e um garotinho pressionado pelos pais para fazer sucesso nas redes sociais. Do ponto de vista situacional, este consegue explorar com destreza desde as consequências previsíveis do sofrimento do mundo humano quanto as mais sutis (ecoando outras preocupações contemporâneas tais como os pais narcisistas).
Já acerca dos diálogos, não há grande complexidade: os personagens falam em geral coisas práticas, sendo o analítico destes restrito a analogias pontuais. Apesar de estarmos em um filme motivacional por natureza, Genovese diverte-se ao desafiar determinado personagem: justamente o coach desiludido com os próprios discursos. Tais sagacidades pontuais numa embalagem simplista atestam a abordagem escapista.
Em termos de direção, é um sentimento variado. Pra começar, em termos de enquadramentos, de posicionamento de atores e de variedade de tomadas, trata-se de uma produção visivelmente “modernosa”: o filme é rodado em 2.35:1, formato com extensa horizontalidade o qual é pouquíssimo explorado pelo diretor, sendo restrito a algumas tomadas de cenário que passam por cortes rápidos frequentes da edição. Raramente um plano passa dos quatro segundos, afirmando a posição do filme enquanto produto da era TikTok. O que se vê mais são as tomadas fechadas nos rostos dos atores ou enfocando estes da cintura pra cima em posicionamentos simples.
Todavia, o brilho aqui é na direção de atores. Os 121 minutos tornam-se prazerosos por conta da dinâmica natural dos atores, com destaque para o jovem Gabriele Cristini, o qual consegue trazer imensa leveza e maturidade para o membro mais jovem do grupo. Cada olhar dos membros do elenco é perfeitamente direcionado, tanto nas tomadas individuais quanto de grupo. A união destes é em todos os sentidos a vivacidade da produção.
Tendo sensibilidade temática e pouca pretensão, O Primeiro Dia da Minha Vida é um drama comercial perfeitamente palatável. Vai ser imensamente apreciado pelos jovens adultos, porém tem seu valor como bom filme para variadas faixas etárias.
Sinopse
Um homem misterioso se apresenta a quatro pessoas que chegaram ao fundo do poço para lhes oferecer um acordo: uma semana para fazê-los voltar a se apaixonar pela vida. Sua intenção é oferecer a possibilidade de descobrir como seria o mundo sem eles e ajudá-los a encontrar um novo sentido para suas vidas. Uma história sobre a força para recomeçar quando tudo ao seu redor parece estar desmoronando.
O Primeiro Dia da Minha Vida – Trailer
Mesmo trabalhando na área de educação, estuda e escreve sobre cinema desde os treze anos. Mesmo vendo muita coisa fora de Hollywood, não é hater de blockbusters (nunca deixa de ver um Velozes e Furiosos quando lança). Ama também ler e jogar videogame. Apenas evita comédias românticas e livros de auto ajuda.