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O Diabo na Rua do Meio do Redemunho | A volta de Guimarães Rosa 

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Ousadia e astúcia vencem a exaustão em O Diabo na Rua do Meio do Redemunho, nova adaptação de Grande Sertão: Veredas.


Filmes tais como A Flor do Buriti ou Memórias de um Corpo Ardente vêm como formas de experimentação. Goste ou não do resultado, houve alguma ousadia em moldar formatos para alcançar certos efeitos. Dentro do cinema independente surgem estas mais frequentemente do que o Mickey Mouse enche os bolsos com nostalgia, ainda bem. 

Com O Diabo na Rua do Meio do Redemunho há um experimento distinto. A ideia é trazer uma adaptação do texto Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa ao estilo teatral sob a lente do cinema. Aqui, Riobaldo (Caio Blat) narra e é representado em suas desventuras como jagunço, na qual este entra em conflito com algumas figuras, em sintonia com outras e desenvolve um misto de admiração e carinho por Diadorim (Luiza Lemmertz). 

Os figurinos e cenários simples viram elementos nos quais os atores ganham a liberdade e, acima de tudo, a tarefa, de manipular as imaginações do público. Há o pacto não-verbal estabelecido entre a equipe teatral e público, com o diferencial da direção cinematográfica por excelência.

 

Caio Blat como Riobaldo

Dirigido por Bia Lessa, O Diabo na Rua do Meio do Redemunho tem na abordagem visual seu triunfo. Fotografado na proporção de 1.85:1 acertadamente, o filme permite tanto preenchimento horizontal dos atores (com estes cumprindo funções de estímulo imaginativo) quanto vertical ao permitir que os atores surjam altos em sua evocação.

Ainda que a diretora permita, em seus planos longos e estáticos, a liberdade de atuação (aproveitada pelo elenco), os movimentos de câmera são justificados, criando vivacidade num ambiente o qual poderia soar como monotonia se não recebesse o estímulo necessário. Trata-se de um mundo árido e colorido à sua maneira. 

Luiza Lemmertz como Diadorim

Todavia, o talento da diretora não consegue contornar uma das consequências negativas da abordagem. Se o teatro permite horas de atuações bombásticas e intensas justamente pelo vínculo de proximidade criado pelo público e elenco, no cinema isso não se confirma. 

A arte da atuação cinematográfica se dá através de camadas, assim como da própria narrativa do formato. Pedem-se momentos de fúria, calmaria, agilidade, e uma transição entre estes tons. Apesar de as atuações presentes serem grandes e tecnicamente apropriadas, a intensidade ininterrupta nos 127 minutos de produção acabam por gerar um sentimento de cansaço inevitável. Isso diminui os efeitos do clímax, justamente onde o texto ganha suas camadas mais expressivas e memoráveis.

Arritmias à parte, trata-se de um resultado notável. Bia Lessa é um talento a ser acompanhado, e após décadas de representações e interpretações deste texto, ver que este permite resultados tão interessantes quanto O Diabo na Rua do Meio do Redemunho, é o bastante para garantir uma recomendação.
 

Pôster de O Diabo na Rua do Meio do Redemunho

Sinopse de O Diabo na Rua do Meio do Redemunho:


Riobaldo, um jagunço (cangaceiro ou pistoleiro), revive sua vida turbulenta no sertão. Ele relata suas experiências como membro de dois bandos inimigos entre si, um bando liderado por Joca Ramiro e o outro, por Zé Bebelo. Posteriormente, assume a liderança do bando após a morte de Ramiro. O enredo é marcado pela presença de um personagem enigmático chamado Diadorim, que se torna o grande amor de Riobaldo e despertando neste inúmeras questões: “Aonde está o Demo? Está fora ou dentro do homem? Como um homem pode amar outro homem? Coração da gente – o escuro, escuros…” Diadorim é um mistério constante para Riobaldo e a verdadeira identidade de Diadorim é revelada apenas no clímax da história. 

O filme fez sua estreia mundial no Festival do Rio 2023 e, em seguida, participou de diversos festivais nacionais e internacionais, como a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2023, a 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes, XV Festival Internacional de Cinema da Fronteira, o Festival du Cinéma Brésilien de Paris, a Mostra Cinebrasil Berlim e o Panorama Brasileiro do Cine en El Kirchner e exibição na Universidade de Yale. 

No Brasil, o longa teve um lançamento diferenciado nos cinemas a partir do dia 15 de agosto, com distribuição da Filmes do Estação, dentro do projeto Mãos à Obra, que é apresentado pelo Instituto Cultural Vale através da Lei Federal de incentivo à Cultura.


Confira o trailer:

O Diabo na Rua do Meio do Redemunho

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