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Nosferatu | Competente, mas indistinguível 

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Novo filme de Robert Eggers, Nosferatu, distrai bem por suas duas horas, mas não sobrevive muito além disso.


Ao final da nova versão de Nosferatu, não pude deixar de pensar em outros dois filmes, os quais também tive o prazer de ver com a minha companheira no cinema recentemente: Alien Romulus e Furiosa: Uma Saga Mad Max. Não que estes tenham, ao menos em termos de trama, tantas coisas em comum, porém, mesmo com diferenças em seus níveis de qualidade, estes me despertaram sensações similares.

Nosferatu é, sem dúvidas, superior aos outros mencionados, porém este trio é uma demonstração de competência a nível técnico também em direção básica, conduzidos por diretores os quais já se envolveram com produções melhores anteriormente. O trio também divide em comum o apego à familiaridade, ganhando críticas positivas e apoio do público por juntarem reverência tão proporcional ao medo de romper com o convencional. 



No papel, ninguém contestaria a escolha de Robert Eggers, responsável pelos ótimos A Bruxa e, especialmente, O Farol para comandar um remake do clássico homônimo de 1922. A trama nada mais é do que a história de Drácula com nomes trocados, com direito aos mesmos arquétipos: o marido (Nicholas Hoult) o qual nos introduz ao vampiro do título (Bill Skarsgård) e cuja esposa (Lily-Rose Depp) desperta paixões neste. 

Por mais que todos entendessem o subtexto sexual na obra original e nas adaptações tanto de Drácula quanto deste, a versão de 2024 de Nosferatu se direciona quase completamente ao erotismo. Trata-se de Eggers sendo coeso com sua própria iconografia, porém inevitavelmente remove qualquer tipo de sutileza da história do clássico monstro. 



Eggers, por sinal, continua demonstrando habilidade por trás das câmeras: escolhendo o frame de 1.66:1 para equilibrar o espaço de seus enquadramentos (dando o devido destaque à ótima direção de arte) com a movimentação e expressividade de seus atores, o diretor faz um filme bastante palatável em termos de entrega de promessas, porém com um refinamento raro entre os diretores modernos. Os planos do diretor são de preferência longos e com diferentes perspectivas: close ups e planos abertos são exibidos sem cortes e de forma fluída. 

Não faltam também momentos de construção de tensão, auxiliados pela boa (ainda que o contraste de laranja com azul esteja defasado) fotografia, e a escolha do frame 1.66 valoriza os rostos dos atores e suas reações. A música também ajuda a estabelecer o clima de tensão, aflição e erotismo, ainda que dificilmente consiga manter-se na memória ao terminar.



Eis o que nos leva aos principais problemas desta nova versão de Nosferatu: trata-se de um filme perfeitamente funcional e executado com capricho, porém nunca memorável. O maior sintoma disso é a grande decepção representada pelo monstro-título. De seu visual genérico de zumbi, passando por suas expressões sempre de rosto cerrado até a hilária voz exagerada (a qual em alguns momentos, especialmente quando o diálogo é explicativo demais, desperta risos involuntários), o vampiro deste filme é um ser indistinguível de milhares dos monstros os quais vimos nos últimos cem anos. 

A decisão do cineasta de enquadrá-lo sempre parado em pé, com pouquíssima movimentação visível, apenas ajuda a torná-lo apenas uma criatura vilanesca, porém genérica. Falta tanto a expressividade colorida de um Gary Oldman em Dracula de Bram Stoker quanto a sutileza grotesca do Max Schreck de 1922. 



As atuações (não posso julgar Skarsgard pois este está coberto de maquiagem inexpressiva e com edição de voz) vão do correto (Depp) até o meramente competente (Holt, Aaron Taylor-Johnson, Willem Dafoe). O roteiro também é deficitário, prolongando-se a níveis alarmantes e exagerando no siso dos diálogos, com algumas das cenas envolvendo Dafoe, Johnson e Emma Corrin (intérprete da esposa do último) soando como um episódio de Chapolin, algo que não sei se conta contra o filme ou a favor do brilhantismo de Roberto Gomez Bolaños. 

Nosferatu trata-se, no fim das contas, de um bom filme, o qual consegue distrair bem durante pouco mais de duas horas. Ao mesmo tempo há aqui uma obra sem vivacidade, longa, a qual dificilmente vai sobreviver a mais de um ano na mente do espectador médio. Esperar então que o novo projeto de Eggers tenha uma repercussão centenária também seria demais. Torço para que Eggers aproveite o sucesso de crítica e bilheteria obtido aqui para conseguir novos investidores para seus projetos independentes.

Confira o trailer de Nosferatu:


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