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Meu Filho, Nosso Mundo | Delírio narcisista disfarçado de empatia

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Meu Filho, Nosso Mundo (Ezra) é um drama o qual se diz inclusivo, mas é apenas outro exemplar do cinema feito para adultos infantilizados.


Se existe um sujeito bem-relacionado, este é Tony Goldwyn. Em sua estreia na direção, o ator veterano conta com um elenco vasto, seja para papeis centrais ou para pontas. Tenho até medo de entrar muito no foco sobre as atuações de “Meu Filho, Nosso Mundo” (título digno de novela das oito para “Ezra”). Já tem muito problema pra lidar, ser acusado de divulgador de spoilers definitivamente não é o que eu quero.

Já que, as nada surpreendentes, boas relações sociais de Goldwyn não são assunto interessante, tendo em vista que uma rápida visita ao google o aponta como neto do cofundador da MGM Samuel Goldwyn, melhor falar sobre a qualidade do filme. Aqui, Max (Bobby Cannavale) é um comediante divorciado o qual usa seu filho, Ezra (William Fitzgerald), autista, como seu amuleto da sorte em seus shows de stand up. 

Quando convidado para se apresentar no programa de Jimmy Kimmel, o protagonista coloca tudo a perder ao reagir com agressividade tanto quando a escola de seu filho solicita que este seja transferido a uma escola adaptada para crianças neuroatípicas quanto ao descobrir a medicação receitada para tratamento de seu filho. Após ser punido com suas ações com uma ordem de restrição, Max decide sequestrar Ezra, deixando sua ex-esposa (Rose Byrne) e seu pai (Robert De Niro) desesperados. 

A ideia é seguir a rota do road movie através da dinâmica de pai e filho. Para não começar com negatividade completa, falemos sobre a direção de Goldwyn. Filmado em 2.00:1 (conhecido como Univisium), o longa já vem embalado com uma fotografia a qual permite melhor iluminação e quadros extensos com altura apropriada. Assim, alguns dos enquadramentos que usam dimensões distintas do quadro funcionam: quando o avô interpretado por De Niro se posiciona sentado num canto o deixando diminuto em relação ao neto, há um simbolismo óbvio porém eficiente. Da mesma maneira, o acampamento do personagem de Rainn Wilson tem sua vastidão bem situada pelo diretor novato. 

Pena que Goldwyn caia em todas as armadilhas de diretores contemporâneos: apelando para a continuidade acelerada da edição. “Meu Filho, Nosso Mundo” corta rapidamente seus poucos bons quadros e abusa dos close ups em ambientações das mais desinteressantes. Ainda que a fotografia de Daniel Moder faça bom uso de cores, os enquadramentos pouco inspirados, frequentemente enquadrando atores do ombro pra cima, acabam sendo um desperdício de imagem. 



Desperdício este que torna-se completo graças à movimentação espasmódica da câmera, a qual frequentemente começa a se sacudir (e lá vem a desculpa da “intenção”), deixando as composições pouco interessantes de Goldwyn desagradáveis de se olhar. 

Mas se a direção afobada representa um desprazer estético, o roteiro é sem dúvidas a pior parte. Escrito por Tony Spiridakis aparentemente baseado em sua vivência com o filho, este papiro da antiguidade ainda usa a muleta do “indivíduo mágico” para retratar Ezra não como uma criança interessante por si só, mas a plataforma ideal para o protagonista brilhar. 

É pelo convívio com o menino “diferente, mas perfeito à sua forma” (a desculpa perfeita para os roteiristas preguiçosos não trazerem nenhuma nuance àqueles que dizem “incluir”) que Max, um dos personagens mais não-intencionalmente detestáveis de filmes lançados em 2024, vai poder posar como o pai sensível e valente. Pensando com o intestino o tempo inteiro, o protagonista agride pessoas verbal e fisicamente com o pretexto de “proteger o filho”, toma as atitudes mais egoístas possíveis e é sempre exaltado pelo roteiro e recompensado com afeto pelos coadjuvantes. 

“Meu Filho, Nosso Mundo”, portanto, é um atraso em diversos sentidos. Recompensa adultos irracionais e mal resolvidos (e não é apenas o protagonista, pois a mãe do garoto-título, sabendo do histórico de escapadas deste, deixa a porta destrancada num momento chave) e exalta não a empatia ou a valentia, mas sim o narcisismo dos mais esdrúxulos. Mesmo bem atuado e fotografado, este filme é uma forma de auto indulgência das mais nocivas num 2024 já cheio de ególatras infantilizados.   

Confira o trailer de Meu Filho, Nosso Mundo:

Meu Filho, Nosso Mundo (Ezra)

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