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Lispectorante | Homenagem a uma grande autora e a uma grande intérprete

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Filme de Renata Pinheiro, Lispectorante tem experimento visual ousado e roteiro conflituoso.


Não é de hoje que Marcélia Cartaxo vincula-se a Clarice Lispector. Sua interpretação como Macabéa em A Hora da Estrela marcou o cinema brasileiro e apresentou a obra da autora para milhares de pessoas, muito antes de o Tumblr trazer frases creditadas à autora. 

A proposta de Lispectorante é de unir a atriz a papéis familiares, vendo-se que os ecos à personagem citada unem-se ao marcante papel desta em Pacarrete, a uma narrativa a qual busca emular os dilemas existenciais e as imagens expressivas evocadas pela escrita de Lispector. 

Na trama do filme de Renata Pinheiro, Glória (Cartaxo) é uma artista plástica em situação de aperto financeiro a qual regressa à sua cidade natal e, enquanto percebe mudanças relacionadas à idade e mudanças geracionais, passa a conectar-se com outras pessoas após descobrir a casa de Clarice Lispector. 



Nisso, o saudável e já comprovado método de contrastar um protagonista e sua visão de mundo com adversidades é colocado em prática pela produção. No que diz respeito à estética, não há do que reclamar: a diretora dedica boas porções da produção a criação de imagens evocativas, utilizando-se do verde do design de produção e das cores pastéis de ambientações para fugir dos clichês da “estética quente”. 

Os frames, os quais remetem ao aspecto 2.00:1 priorizam a verticalidade, porém têm extensão horizontal o bastante para inserir elementos e atores devidamente na tela, além de trazer efeito quando planos fechados (o olho de uma personagem ao descobrir algo) tomam a cena. Trata-se de um trabalho paciente e metódico de direção. 

Em termos de roteiro nota-se uma valorização e complexação da protagonista, a qual permite que Marcélia Cartaxo brilhe como esperado, numa composição que surge menos caricata do que no ótimo Pacarrete, mas não menos inteligente. Sua personagem tem uma gama de emoções e vivacidade que surgem como presente para a intérprete. 



Já outras atuações seguem uma proposta mais teatral (especialmente a intérprete da tia da protagonista, pois cada frase desta parece enunciada sem os naturalismos da fala brasileira, e mais como um texto memorizado) e utilitária. Os resultados são mistos, porém não indignos. 

Para quem espera uma narrativa catártica e a qual surja como uma aventura pela criação da escritora homenageada, Lispectorante talvez desperte certo estranhamento em suas disparidades de abordagens para lidar com dilemas da narrativa. Trata-se de um experimento interessante, feito por uma diretora com bastante talento para composições, porém com um roteiro o qual parece tão em conflito internamente quanto sua personagem central. 

Sinopse:

Glória Hartman, uma mulher madura que atravessa uma crise existencial e financeira, volta para sua cidade natal, que passa por um processo de abandono. Através de uma fenda nas ruínas de onde morou a escritora Clarice Lispector, Glória começa a ver cenas fantásticas que vão alterar sua vida.

Com distribuição da Embaúba Filmes, Lispectorante estreia em 8 de maio nos cinemas brasileiros.

Confira o trailer de Lispectorante:


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