Slasher moderninho, Hora do Massacre, só se salva no humor não intencional.
Mesmo sendo um grande admirador do gênero terror, preciso frisar o seguinte: o subgênero slasher sempre produziu mais coisas ruins do que boas. A fórmula popularizada nos anos 70 por Halloween e copiada inúmeras vezes posteriormente foi sugada à exaustão pelos estúdios devido a seus baixos custos e alta lucratividade.
Não à toa, temos literalmente dezenas de exemplares do já citado Halloween (dando pra contar numa mão quais são acima da média) e Sexta-Feira 13 (difícil é achar dedo pra definir qual presta). Claro, é possível um revisionismo saudável de cineastas, os quais, apaixonados pelo subgênero, veem neste uma oportunidade de esbanjar vigor e inventividade, um oceano a este deserto.
Foi o que ocorreu com a dupla Tyler Gillett e Matt Bettinelli-Olpin com seus Pânico (2022) e Pânico 6. Também é possível que algum maluco criativo crie algo completamente insano e ambicioso, algo feito por Rob Zombie no respeitável remake de Halloween (e até mesmo na sua continuação, a conta gotas). Não vi nada disso em Hora do Massacre. Esta produção franco-canadense tem alguns méritos técnicos, mas só consegue brilhar quando cai no “tão ruim que é bom”.
Dirigida por três pessoas, cujo grupo se identifica com o acrônimo RKSS, e escrita por apenas uma (não que quantidade faça diferença, como veremos a seguir), esta tem como personagens centrais um grupo de adolescentes os quais vestem máscaras para vandalizar uma loja de móveis claramente inspirada na IKEA. O motivo alegado por estes é que o estabelecimento destrói florestas amazônicas. O problema é que o grupo se vê encurralado por um agente de segurança sociopata o qual pensa estar em O Predador, declarando caça aberta ao grupo.
Primeiramente, o longa não é eficiente em ilustrar o engajamento ou a motivação do grupo à sua causa, e o resultado é o bom e velho estereótipo do adolescente fazendo bobagem para a história poder andar. E haja bobagem, tanto em suas estratégias para viralizar nas redes sociais (as quais também jamais soam agressivas ou disruptivas) quanto nas falas óbvias quando estes interagem (Hora do Massacre faz questão de verbalizar os adjetivos dos personagens além de contradizer suas opiniões frequentemente).
Quando o tal massacre começa, as estratégias destes para saírem vivos se saem pior ainda. Quando confrontados com um desafio aparentemente impossível, estes sabem perfeitamente da necessidade de confrontar o vilão, porém cumprem suas ordens de acordo com a vontade do roteiro e lembram de suas prioridades igualmente.
Além da estupidez dos “heróis”, temos um vilão com fisicalidade porém cujos métodos são feitos óbvios em poucos minutos de projeção, destruindo o fator surpresa ou a tensão. Trata-se de um roteiro abarrotado de obviedades, no qual as falas são meramente ilustrativas e práticas, com nada soando analítico ou nos gerando tensão por quem está em cena.
Em termos de direção, a situação não é melhor: o trio de cineastas escolhe um aspecto 2.35:1, com tela ampla, e raríssimas vezes preenche o enquadramento apropriadamente. A prioridade destes reside nos close ups (que saudade do 4:3), e em saltar de plano para plano rapidamente, desperdiçando o gore o qual poderia nos salvar do tédio. Por sorte ao menos estes seguem (ou tentam) a cartilha James Wan e evitam câmera na mão frenética, porém com exceção de tentativas de demonstração de estilo tais como uma cena envolvendo neon, não há inventividade aqui.
A fotografia de Hora do Massacre, mesmo não tendo elementos muito interessantes de organização de atores e design de produção para operar, é apropriadamente estilizada. Raramente a escuridão domina por completo a cena mesmo com luzes apagadas, o que é um êxito. Há também o deleite de algumas cenas dominadas pela estupidez tais como uma envolvendo um armário, mas também não o bastante para salvar do sono.
Enfadonho até mesmo em sua tentativa de fazer um final chocante, o qual é frustrado pela apatia completa por quem quer que seja em cena, Hora do Massacre é só mais um filme ruim numa lista interminável de um subgênero o qual nunca vai deixar de existir.
Confira o trailer de Hora do Massacre
Mesmo trabalhando na área de educação, estuda e escreve sobre cinema desde os treze anos. Mesmo vendo muita coisa fora de Hollywood, não é hater de blockbusters (nunca deixa de ver um Velozes e Furiosos quando lança). Ama também ler e jogar videogame. Apenas evita comédias românticas e livros de auto ajuda.