O filme Greice pode parecer uma história simples à primeira vista, mas tem muito a dizer.
A trama acompanha uma jovem brasileira, estudante da Universidade de Belas Artes de Lisboa, que conhece e se envolve com o português Afonso (Mauro Soares). Após uma festa, eles se veem no centro de um acidente envolvendo um dos quadros da universidade. Embora a premissa do filme seja simples, o trabalho do jovem diretor cearense Leonardo Mouramateus é encantador. Desde a cena de abertura, que explora a universidade e cria uma aura de mistério que permeia toda a narrativa, até a condução do cotidiano que acompanha os personagens, o filme conquista pela sua atmosfera envolvente.
A excelente Amandyra (Greice) conduz o filme com seu carisma, sendo magnética ao interpretar essa jovem narradora, ao mesmo tempo não confiável e cativante. Em determinado momento, Clea (personagem de Isabél Zuaa) diz que Greice “transforma mentira em verdade. Escreve de trás para frente”, o que resume bem os acontecimentos do filme. O mistério é desvendado aos poucos, enquanto o cotidiano desses personagens e suas complexidades vão sendo apresentados.
De maneira inesperada, o filme aborda com sensibilidade as cicatrizes da exploração colonial portuguesa, especialmente quando Greice retorna ao Brasil e precisa lidar com os motivos que a fizeram perder seu visto e sua relação com Afonso. Além de explorar o passado da personagem, o filme também revela suas nuances familiares e como suas novas conexões ajudam a construir sua identidade.
Com uma direção excelente e atuações carismáticas, Greice retrata de forma envolvente a história da relação entre Brasil e Portugal, enquanto nos conduz por um mistério simples, mas cativante. O filme é mais uma contribuição valiosa para o cinema brasileiro.
Mais um jornalista de cultura pop e otaku nas horas vagas.