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Encontro com o Ditador | Bom suspense político prioriza a atmosfera

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Produção multinacional, Encontro com o Ditador (Rendez-vous avec Pol Pot) se sai bem ao fazer o básico direito.


Não existe texto mais difícil de ser feito do que aqueles sobre filmes os quais mesmo indubitavelmente bons lidam com temáticas e abordagens as quais pouco interessam a quem escreve. Foi difícil escrever sobre Memórias de um Corpo Ardente mesmo com este merecendo uma recomendação. Na busca pelo máximo da objetividade, como encontrar vigor para escrever sobre algo que não desperta nenhum tipo de paixão?

Produção do Camboja, da França e de outras três nações, Encontro com o Ditador tem resultados diferentes para mim. Sendo um interessado pelos temas presentes, não demorei para ser fisgado por sua narrativa. 

Situada em 1978, a história tem como personagens centrais três jornalistas franceses: Lise (Irène Delbo), Alain (Grégoire Colin) e Paul (Cyril Gueï), os quais são convidados para uma estadia no Camboja durante o governo tirânico de Pol Pot. Embora cada membro do trio tenha sua opinião sobre o ditador, os três são obrigados a confrontar a realidade opressiva de um regime ditatorial. 

Em termos de roteiro, para quem assistiu a longas tais como O Ano que Vivemos em Perigo, O Último Rei da Escócia ou, até mesmo, Os Gritos do Silêncio (o qual divide o cenário histórico com este), não haverá grandes novidades. 

Irène Delbo em Encontro com o Ditador

O trajeto de perda de credulidade e crescente ameaça passa pelas batidas conhecidas, além de os três terem protagonistas com personalidades tão bem definidas que beiram a bidimensionalidade: Um é um admirador secreto de Pol Pot, o qual considera um gênio dos movimentos populares, outra é a mais neutra, porém ao mesmo tempo mais obstinada a investigar e outro é o mais combativo. 

Por sorte, tanto o roteiro quanto a direção de Encontro com o Ditador extraem entretenimento e relativa pungência da premissa. Ainda que as montagens com miniaturas de maquete sejam excessivas ao ponto de escancarar o motivo de sua existência (contenção de orçamento), a direção do cambojano Rithy Panh faz escolhas mais que apropriadas para estimular engajamento de seu público. A começar pela escolha do “academy ratio” (proporção vertical de tela, 4:3), a qual permite composições verticais e, com isso, priorizar tanto a fisicalidade dos atores quanto explorar ambientes opressivos com eficiência. 

Pôster de Encontro com o Ditador (Rendez-vous avec Pol Pot)

Entre simbolismos mais discretos (a figura da escada de embarque de avião abandonada) ou óbvios (as grades no quarto dos jornalistas e como Lise é filmada logo que chega neste), a abordagem visual de Panh, com seus quadros altos e opressivos, é extremamente funcional. Os poucos momentos de explosão ou sugestão de violência também funcionam devido ao cuidado deste no que diz respeito à atmosfera narrativa. 

Sendo inteligente o bastante para deixar clara a hipocrisia de seus vilões em seu discurso “pró-trabalhador”, Encontro com o Ditador é um suspense político sempre interessante. Mesmo lidando com formatos de trama conhecidos e limitações evidentes, se sobressai por fazer o essencial com qualidade.  

Sinopse de Encontro com o Ditador:

1978. Durante três anos, o Camboja esteve sob o jugo do revolucionário Pol Pot e do seu Khmer Vermelho. O país está economicamente devastado e quase dois milhões de cambojanos morreram num genocídio que permanece silencioso. Três franceses aceitaram o convite do regime e esperam obter uma entrevista exclusiva com Pol Pot. Eles são uma jornalista familiarizada com o país, um repórter fotográfico e um intelectual simpatizante da ideologia revolucionária. Mas a realidade que percebem sob a propaganda e o tratamento que lhes é reservado mudarão gradativamente as certezas de todos.

Sobre o Festival Filmes Incríveis:


A partir de 1º de Agosto o REAG Belas Artes (SP) será o centro de uma volta ao mundo em produções cinematográficas de 20 países que formam a seleção do Festival Filmes Incríveis do Belas Artes Grupo.

Todos são inéditos no circuito brasileiro, e apresentam as novas obras de cineastas renomados, como o brasileiro Karim Aïnouz e o cambojano Rithy Pan, além de um longa do polonês Krzysztof Kieslowski.

O festival acontece até 14 de agosto e é patrocinado pelo Desenvolve São Paulo, Secretaria do Estado de São Paulo e o Ministério da Cultura. 


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