Coringa

Coringa | Muito obrigado, Joaquin Phoenix

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Joaquin Phoenix cria novas camadas para o Coringa e nos entrega uma performance perfeita, no filme que, sim, é um dos melhores do ano.

Em 2019, o Batman completou 80 anos e, em 2020, quem completa essa idade é o Coringa. O vilão é o mais importante da extensa e maravilhosa galeria de vilões do morcego. Apenas o Homem-Aranha tem vilões tão bons quanto o Batman.  E, bem, não vou ser hipócrita, torci o nariz quando surgiu o rumor sobre um filme do Coringa.

Longe de mim duvidar do potencial dele em segurar um filme solo, mas na época a Warner e a DC estavam cogitando produzir um outro longa do Coringa, esse protagonizado por Jared Letto. Essa chuva ácida de Coringas não me desceu muito bem. Mas, o longa de Todd Phillips foi me conquistando aos poucos, o pedido de um orçamento baixo e a produção visando o público adulto foram coisas que me animaram. A adição de Martin Scorsese na produção, a escolha de Joaquin Phoenix como o palhaço do crime e a ambientação oitentista me fez chutar pra escanteio os receios e embarcar com gosto no trem do hype.

A empolgação se manteve nas divulgações das primeiras imagens oficiais e do trailer que mostraram bem a proposta do filme: uma abordagem realista e brutal do Coringa. E, agora, finalmente após assistir posso dizer que as minhas expectativas foram atendidas. Na verdade, elas até passaram. Pelos trailers, nós temos uma ideia de como é a fotografia, a cidade e o personagem, mas ao assistir ao filme por completo é que nós vemos o quão grandioso é.

A Gotham City criada por Todd Phillips é uma metrópole gigante. Ela emula o que Christopher Nolan fez em sua trilogia do Batman, quando o diretor optou por uma cidade real na maior parte das vezes. Aqui, Phillips mostra mais do que uma grande metrópole, ele mostra uma cidade doente e à beira do colapso. Temos problemas reais de cidades reais, como cortes de verba para saúde, por exemplo. Gotham é quase como uma bomba relógio prestes a explodir. Você sente a cidade, ela está viva, os becos com latas de lixo, a fumaça que vem dos esgotos, os ratos, a população, é a Gotham perfeita.

Nessa cidade cheia de problemas temos Arthur Fleck, uma pessoa comum e invisível na sociedade que quer cuidar de sua mãe debilitada. Arthur sofre de um distúrbio mental que o faz rir sem ter vontade, é uma condição patológica e é angustiante vê-lo gargalhar, pois vemos que isso o machuca. Ele, inclusive, tem passagem pelo sanatório. Com o desenrolar da trama, nós vamos entrando em sua mente fragilizada (ou será que é ele quem entra na nossa?). A todo momento sentimos que alguma desgraça pode acontecer, o que nos deixa em estado de constante tensão.

Tudo isso se vale por dois motivos, o primeiro é a entrega de Joaquin Phoenix. Ele não é um ator que costuma pegar papéis que não valham a pena. O roteiro de Coringa é incrível, mas seu sucesso se deve muito a performance dele, você consegue sentir que é algo diferenciado já nos primeiros minutos. A transformação física mostra muito bem o que estou dizendo, Phoenix emagreceu quase 20kg para o papel! E ele utiliza isso a favor durante o filme, com algumas tomadas realmente assustadoras. Uma em especial, que está no trailer, é quando ele aparece sem camisa e como rosto pintado. É assustador e lindo.

O segundo motivo é a direção impecável de Todd Phillips. É difícil acreditar que o diretor de Coringa é o mesmo realizador da trilogia Se Beber, Não Case. Filmes esses que eu gosto, mas a diferença de qualidade é gritante. Phillips fez o filme de sua vida. Conseguia-se perceber da maneira que ele divulgava em seu instagram, que ele acreditava demais no potencial de seu novo filme.

Finalizo o texto dizendo que há muito tempo não via um filme levantar tantas questões polêmicas. Estou vendo alguns comentários em redes sociais questionando se esse filme era mesmo necessário. Se está fazendo as pessoas pensarem, questionarem e debaterem a sociedade como um todo, acredito que Coringa seja mais necessário que a maioria dos filmes que saiu esse ano. 

Coringa está em cartaz em todo país e tem a classificação de 16 anos.


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