Confinado é um suspense divertido que não faz pouco do público.
Uma bandeira a qual me vejo obrigado a levantar constantemente nos meus últimos tempos escrevendo é a da simplicidade. Há valorização demais de intenções, de grandes ideias, porém o que permanece após o passar dos anos é uma narrativa envolvente. O que faz a última é a habilidade mostrada no uso das ferramentas desenvolvidas ao longo de mais de um século de cinema.
Não à toa, mesmo com toda a aparente invencionice mirabolante do Universo Marvel, a apreciação pela trilogia de Sam Raimi dos filmes do Homem-Aranha ainda é intocada. Falando no criador de A Morte do Demônio, Confinado é um projeto com sua produção o qual usa dos princípios mais simples possíveis para sua premissa, porém conta com direção sempre empolgada pelas possibilidades de criar tensão.
Dirigido por David Yarovesky, o filme acompanha Eddie (Bill Skarsgård), um entregador cuja van precisa de um conserto que custa mais do que pode pagar. Sem conseguir muitas alternativas de empréstimo enquanto sua ferramenta de trabalho é retida, este decide tentar roubar ítens valiosos de carros de luxo, conseguindo entrar em um SUV. Ao tentar sair, o sujeito percebe ter sido confinado por um idoso rico (Anthony Hopkins), o qual, remotamente, decide exercitar seu sadismo ao utilizar todos os recursos do veículo para torturá-lo.

Confinado trata-se de um filme com comentários contemporâneos devidos: a uberização e “iFoodização” indo na contramão do discurso da autonomia trabalhista e jogando a segurança financeira de seus “funcionários” no lixo. Apesar de haver uma troca verbal envolvendo privilégios e repressões em um dos diálogos, o roteiro já merece pontos por não escancarar sua mensagem e também por não sobrepô-la ao suspense.
Suspense, aliás, construído com capricho tanto pelas situações desenvolvidas pelo roteiro (do vidro blindado até certos mecanismos de direção), juntamente com a direção, a qual faz milagre ao usar o quadro extremamente amplo de 2.76:1 parecer como tal mesmo com o foco sendo dentro de um veículo.
As composições de Yarovesky são majoritariamente horizontais e com diversos elementos entre o protagonista e as estruturas ao seu redor, com alguns momentos divertidos de contraponto entre este dentro do carro e o exterior deste. Sim, há close ups e planos mais fechados, porém o quadro extenso é sempre valorizado, tendo o auxílio da ótima fotografia de Michael Dallatorre para inserir diversas cores e contrastes nas composições. O uso de cores é inteligente inclusive quando há quebras onde a violência ou ferimentos precisam aparecer.

A entrega dos atores também faz diferença: Skarsgård faz seu papel mais “humano” após anos interpretando monstros e criaturas sobrenaturais, enquanto Anthony Hopkins, mesmo durante quase todo o filme materializa-se pela voz, demonstra estar se divertindo como o médico rico e cruel.
Com um ritmo sempre divertido, em que os momentos de tensão e de descobertas úteis nunca se atropelam, Confinado entrega uma hora e meia de suspense extremamente simples e efetivo à moda antiga. Não vai mudar o mundo nem revolucionar o gênero, mas também nunca vai tratar o público como um ser inferior, e isso em 2025 já é um tremendo ganho.
Com distribuição da Diamond Films, Confinado já está em cartaz nos cinemas.

Mesmo trabalhando na área de educação, estuda e escreve sobre cinema desde os treze anos. Mesmo vendo muita coisa fora de Hollywood, não é hater de blockbusters (nunca deixa de ver um Velozes e Furiosos quando lança). Ama também ler e jogar videogame. Apenas evita comédias românticas e livros de auto ajuda.