A saga do Capitão-América se solidifica como a melhor do universo compartilhado da Marvel.
Uma coisa é certa: se é filme de super-herói, eu entro no hype. Não importa qual seja o personagem, sempre vou esperar que aquele filme cumpra o seu papel e me divirta. Mas, como sabemos bem, isso nem sempre acontece. Às vezes, o trailer até tenta avisar: “olha isso, cara! Tá uma merda, não fica empolgado!”. Mas adivinha? Lá estou eu empolgado! Em 2011 provei essa água amarga com gosto de musgo chamado Lanterna-Verde (tenho pôster, inclusive). Mas, também, provei a água boa e cristalina com Capitão-América: O Primeiro Vingador.
Contudo, deixando a frustação com o Lanterna-Verde de lado, Capitão-América: O Primeiro Vingador foi especial, era uma história de origem e ambientada na segunda guerra, dois elementos que já me chamam a atenção e, claro, era o último filme a ser lançado antes do aguardado Os Vingadores.
O pontapé inicial para a saga de Steve Rogers acerta muito, desde o elenco até a trama de tom aventuresco. Chris Evans nos faz esquecer que um dia viveu o Tocha Humana e nos entrega um Capitão-América com a essência do personagem. Já o Caveira Vermelha vivido por Hugo Weaving é o típico vilão megalomaníaco bem ao estilo “gibizão” da década de 40. Outros personagens fundamentais, tanto para a trama como para o decorrer da saga de Steve, são: Peggy Carter, interpretada por Hayley Atwell e Buck Barnes, interpretado por Sebastian Stan.
No primeiro capítulo da saga, a missão do Capitão-América é derrotar a divisão de ciências nazista, a Hydra, comandada pelo Caveira Vermelha. No decorrer da missão, ele perde seu melhor amigo, Bucky, em combate, algo que o marcaria pra sempre, já que os dois eram como irmãos. No fim, o Capitão-América se sacrifica e fica perdido no ártico por anos, sendo resgatado apenas no tempo presente.
Na guerra em que lutou, o Capitão-América sabia muito bem quem eram os vilões. Todos sabiam. Em Os Vingadores, a ameaça a ser enfrentada também era muito clara. É na sua segunda aventura solo que os questionamentos começam: nesse mundo moderno, quem são os vilões? Não é possível ter plena certeza, já que as intenções da S.H.I.E.L.D. não se mostraram muito claras à princípio. Essa “pulga atrás da orelha” já havia sido plantada no primeiro Vingadores, quando Steve descobriu por conta própria (com um empurrãozinho de Tony Stark) que os planos de Nick Fury eram outros.
Capitão-América: O Soldado Invernal, mostra uma evolução no personagem, agora temos tempo para ver como esse homem do passado está tentando se adaptar ao mundo moderno e como ele se sente cada vez mais deslocado. A trama é um importante ponto de virada no Universo Marvel, já que mostra a poderosa S.H.I.E.L.D. sendo dissolvida.
Mas, o grande trunfo do filme é que, assim como seu antecessor, ele funciona como uma peça do grande quebra-cabeça da Marvel, como também funciona muito bem como um filme solo. A história, que é muito mais voltada pra política, tem Alexander Pierce, interpretado pelo experiente Robert Redford, como um vilão de terno e gravata que age nas sombras e controla o vilão que são “os músculos”, no caso o Soldado Invernal, que nos presenteia com umas das melhores sequências de porradaria entre herói e vilão (é de tirar o fôlego!).
O retorno de Bucky mexe com as estruturas de Steve, que não consegue confrontar seu amigo no clímax do filme, pois sabe que por trás de toda a lavagem cerebral da Hydra, o Bucky que ele conhece ainda está lá. O que leva a outro acerto do filme que é não querer “consertar”, de forma apressada, o relacionamento entre os dois.
Eles precisavam de um filme inteiro como antagonistas, por mais que Steve tenha abdicado de lutar no fim, mas com o propósito de ajudar seu amigo a se lembrar de quem era. No fim, temos um Soldado Invernal confuso, que salva a vida do Capitão e desaparece pra se reencontrar.
Temos um Capitão-América tomando as rédeas da situação e não aceitando ordens de ninguém. Além de ganhar novos aliados, como Sam Wilson, o Falcão, estrelado por Anthony Mackie, que faz uma estreia espetacular apresentando um ótimo cartão de visitas. E a Viúva Negra de Scarlett Johansson, que àquela altura dispensava qualquer tipo de apresentação.
No capitulo final da trilogia é importante ressaltar que apesar de termos todos os Vingadores de volta, além da apresentação de novos personagens que serão de extrema importância lá na frente, a trama continua sendo do Capitão-América. Mais uma vez a sua aventura solo serve para um grande momento de virada no Universo Marvel e novamente eles conseguem contar uma boa história sem tirar de foco seu personagem principal.
Capitão-América: Guerra Civil acontece logo após os eventos de Vingadores: Era de Ultron e mostra uma nova equipe dos Vingadores. A amizade é um ponto crucial a ser testado nesse capítulo, já que Tony Stark e Steve Rogers, apesar das diferenças, são amigos e, acima de tudo, se respeitam. O que não aconteceu da noite para o dia, tudo foi construído no decorrer dos anos. Por outro lado, temos Steve com o Bucky, amigos de infância, irmãos, que se reencontram depois de anos, só que com um problema de lavagem cerebral e experiências do governo pelo caminho.
Na trama temos a ONU querendo controlar Os Vingadores, fazendo com que o Capitão siga ordens e seja impedido de ajudar quando quiser. Em contrapartida, Tony acha a ideia viável, já que entende que a equipe precisa de uma supervisão governamental para que não cause mais danos. Isso certamente divide a equipe e um atentado terrorista, cujo principal suspeito é Buck Barnes, faz com que o Capitão e seus aliados desrespeitem qualquer lei a fim de provar a inocência de Bucky, fazendo com que os Vingadores entrem em guerra.
O vilão escolhido da vez foi Zemo, interpretado por Daniel Brühl e que, como seu antecessor, é um vilão que age nos bastidores. Mas, ao contrario de Alexander Pierce, que tinha em seus objetivos algo mais global, Zemo tem um objetivo pessoal, mexendo os pauzinhos para destruir Os Vingadores por dentro, abalando aquilo que é mais importante em uma equipe: a confiança.
No clímax do filme, ele faz com que Tony Stark descubra que o Soldado Invernal foi o responsável pela morte dos seus pais e, ao confrontar Steve se ele sabia desse ocorrido, o mesmo diz que sim. Steve quis ajudar um amigo a se livrar da Hydra e quis poupar o outro da dor.
Mas, não havia jeito, ele precisava escolher um. E ali ele fez uma escolha, ali ficou claro para Tony que havia uma traição. Tudo pelo qual eles lutaram e conquistaram foi por água abaixo com uma mentira. E, em uma das sequências mais emocionantes do MCU, vemos uma amizade sendo destruída com socos e chutes. Ao final, o Capitão não é mais um vingador, mas deixa seu número de telefone caso Tony precise dele.
Diferentemente da trilogia do Homem de Ferro, que vacilou em alguns momentos no segundo e terceiro capítulos, mesmo com um show à parte de Robert Downey Jr, e do Thor, que demorou um pouco pra se encontrar, mesmo com Tom Hiddleston roubando todas as cenas possíveis, a saga do Capitão-América foi brilhantemente contada ao longo dos 3 filmes.
Ameaças foram elevadas e vimos o Capitão sendo tirado diversas vezes da sua zona de conforto, o que fez com que ele evoluísse dentro daquele universo. Isso não quer dizer que Homem de Ferro e Thor não tiveram evoluções, de fato, tiveram sim. Porém, a evolução do Capitão foi muito mais trabalhada, desenvolvida. O que torna sua trilogia a melhor que o estúdio já produziu.
Ainda veremos o Capitão-América de Chris Evans uma última vez em Vingadores 4 e, depois de 9 anos, será a hora de dizer adeus. Sua história foi contada. É hora desse senhor de 90 anos tirar aquele merecido cochilo.
Publicitário e jornalista que é apaixonado por cultura pop, coleciona tudo que vê pela frente, adora uma piada ruim e ama a revisora desse site.