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Beetlejuice Beetlejuice | Tim Burton traz “legacy sequel” cheia de energia após quase aposentadoria

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Experiência traumática com a Disney e parceria breve com a Netflix levaram cineasta a sua sequência dos sonhos, Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice


De renomado diretor com uma carteira repleta de sucessos tanto comerciais quanto críticos, Tim Burton encontrou diversos problemas na década de 2010. Seu maior sucesso comercial, Alice no País das Maravilhas, fez com que o público questionasse sua fórmula de sucesso: agora seus mundos expressionistas e distorcidos, além de atuações propositalmente caricatas, não mais pareciam agradar as sensibilidades do público moderno. 

Ainda que tenha tido relativo lucro com O Lar das Crianças Peculiares e uma quase vitória no Oscar com Frankenweenie, seu segundo remake live action em parceria com a Disney provou-se mais do que um desafio. Dumbo, no papel, tinha todos os componentes para uma obra Burtoniana: O protagonista excêntrico, a atmosfera calma com quebras pontuais de ritmo e as possibilidades visuais oriundas do fantasioso num ambiente familiar (o circense, com direito a retorno de Danny De Vito para liderar a trupe). 

Independentemente das possibilidades criativas, a pressão imensa do estúdio de Mickey Mouse antes, durante e depois da produção e a falta de ressonância do filme com o público num momento em que estes remakes faziam caminhões de dinheiro levaram Burton a pensar em se aposentar. 

Quem veio ao resgate foi a Netflix, oferecendo a direção da série Wandinha, na qual o diretor finalmente poderia trabalhar com personagens Burtonianos por excelência: a Família Addams. A mistura de elementos de fantasia pós-Harry Potter, drama teen e estética gótico-expressionista de Burton provou-se um imenso sucesso entre os jovens, revitalizando o interesse por sua carreira. 

Wynona Rider e Michael Keaton em Beetlejuice Beetlejuice

Assim, após trinta e seis anos de desenvolvimento, temos a continuação de um grande sucesso com Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice. Com roteiro de Alfred Gough e Miles Millar (os mesmos de Wandinha, mais sobre isso daqui a pouco), a produção traz de volta Lydia Deetz (Wynona Rider), agora uma apresentadora bem-sucedida de um programa com temática paranormal, ainda sendo assombrada pelo fantasma Betelgeuse (Michael Keaton) ao mesmo tempo em que tem que lidar com o namorado de caráter duvidoso (Justin Theroux) e a filha cética (Jenna Ortega).

Quando Delia Deetz (Catherine O’Hara), sua madrasta, anuncia a morte de seu pai, Lydia vê-se obrigada a reunir a família enquanto o bio-exorcista fantasmagórico se vê perseguido por sua ex-esposa (Monica Bellucci). Após toda a introdução acima sobre a carreira recente de Burton, vale a comparação com outro cineasta o qual sempre abraçou a invencionice e o terrorífico inocente: Sam Raimi. Além de ambos terem dirigido cada um dois dos filmes de super-herói mais definitivos de toda a História (dois Batman de Burton e dois Homem-Aranha de Raimi), ambos viram-se em altos e baixos e mais de uma vez sendo restringidos pelas amarras criativas da Disney. 

Apesar de ser produção da Warner, Beetlejuice Beetlejuice mostra-se, enquanto realização, extremamente similar a Doutor Estranho no Multiverso da Loucura dirigido por Raimi. Ambos contam com roteiros duvidosos e, ao mesmo tempo, com a energia insubstituível de seus realizadores. Aqui, os roteiristas Gough e Millar, dupla com um dos currículos menos invejáveis que já vi (cujo único mérito é o argumento de Homem-Aranha 2, e precisamos agradecer aos céus pelos executivos Avi Arad e Laura Ziskin terem aceitado chamar o veterano Alvin Sargent para escrever o roteiro daquela obra de arte em vez da dupla), entopem o filme com diversas subtramas as quais servem para movimentar a narrativa através de incidentes em vez de decisões orgânicas. 

Jenna Ortega e Catherine O’Hara

Se falta cuidado para criar e desenvolver tais tramas (basta perceber que a vilã interpretada por Bellucci mal aparece no filme inteiro), as conclusões são piores ainda, encerrando-se repentinamente e através de ou conveniências (a participação de certo personagem falecido) ou poderes e habilidades de Betelgeuse. 

Trata-se de um roteiro inchado, atrapalhado e modernoso no pior sentido, o qual se esquece completamente que Beetlejuice de 1988 era uma produção com enredo incrivelmente simples, o qual apenas envolvia duas famílias aprendendo a conviver. Infelizmente a dupla de roteiristas do original, Michael McDowell e Warren Skaaren, grandes contadores de histórias à moda antiga, faleceram, e agora temos que lidar com discípulos de Syd Field. A arte da roteirização está cada vez mais perdida. 

Por sorte, a direção de Burton traz tudo o que mais amamos deste: Proporção de tela em 1.85:1 a qual favorece verticalidade e composições as quais remetem a obras expressionistas (e por contarem com horizontalidade moderna permitem ambientes ainda mais espaçosos do que os autores dos anos vinte podiam ter), movimentos de travelling os quais percorrem os ambientes enfatizando a riqueza dos mundos criados e direção de atores a qual permite linguagem corporal e expressividade facial de acordo com a atmosfera proposta. 

Por mais que o roteiro insista em atropelar as coisas, Burton mais uma vez permite que a atmosfera fale mais alto, deixando tanto o time técnico brilhar (os efeitos de maquiagem e design de produção são exemplares) e o elenco aproveitar cada momento em cena. Se um dos trunfos de Beetlejuice em 88 foi contar com uma história a qual promovia a união entre pessoas independentemente de seu contexto de vida ou morte, a continuação vai na mesma direção, agora enfatizando os conflitos e também o carinho entre três gerações de mulheres (e é bom demais ver tanto Ortega, ótima como sempre, interagindo com as veteranas Catherine O’Hara e Wynona Rider). 

Michael Keaton como Beetlejuice

Michael Keaton, por sua vez, mostra ter aguardado ansiosamente pela oportunidade de voltar ao personagem, devorando todas as suas cenas como se nunca tivesse deixado de interpretá-lo após quase quarenta anos. O novo time de coadjuvantes mostra-se confortável e empolgado, com destaque a Willem Dafoe (como não poderia deixar de ser), ator o qual se encaixa tão bem no imaginário de Burton que leva ao questionamento de por que estes nunca colaboraram antes. 

Repleto de “callbacks” ao original sem depender apenas da nostalgia para sustentar-se, Beetlejuice Beetlejuice: Os Fantasmas Ainda Se Divertem é um retorno saudável de Tim Burton a sua energia sombria o qual, felizmente, parece estar sendo bem recebido tanto por crítica quanto público. Fica aqui a torcida para que novos projetos empolgantes deste venham e se algumas caras conhecidas continuarem retornando para acompanhar o diretor, tais como Ryder ou Keaton, ficarei sempre feliz em garantir meu lugar numa sala de cinema.

Confira o trailer de Beetlejuice Beetlejuice, Os Fantasmas Ainda Se Divertem:


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