Halina Reijn constrói em Babygirl uma história interessante de relação entre os amantes sem cair no moralismo.
Na cena de abertura vemos que Romy não está satisfeita. Apesar dela ser uma CEO de uma empresa que revolucionou o comércio digital e ter uma família digna de comercial de margarina, existe algo que está faltando. Em uma apresentação de novos estagiários, Romy encontra Samuel e olhares especiais entre eles acontecem. Após alguns encontros os dois passam a ter uma relação sexual peculiar e que talvez seja aquilo que estava faltando na vida de Romy. Essa é a sinopse de Babygirl lançado em janeiro de 2025 nos cinemas brasileiros, estrelado por Nicole Kidman, Harris Dickinson e Antonio Banderas, escrito e dirigido por Halina Reijn.
Nicole Kidman está em uma interpretação bem impressionante no papel de Romy. Vemos uma personagem que está constantemente na tensão entre ter o que quer e o que ela deveria querer, com tanto que ela “conquistou” em jogo, um caso com estagiário pode colocar tudo a perder, mas ainda assim ela deseja tudo aquilo. Enquanto Samuel, que é interpretado por Harris Dickinson e faz muito bem o papel de um jovem que não tem nada a perder, está em posição descartável na estrutura burocrática da empresa. Isso fica claro quando Samuel toma a iniciativa dessa relação. Antonio Banderas faz um marido reservado que respeita os espaços da esposa, mas está receoso de que algo de errado esteja acontecendo.
Halina Reijn mostra que cuida melhor da imagem do que do texto. O jogo de câmera é muito sagaz para criar essa relação de desejo dos dois, ora apostando em close-ups mais íntimos ora em cenas mais distantes, ao mesmo tempo que lida com a subversão da relação de poder com uma CEO recebendo ordens de um estagiário. Os cenários vão passeando com fluidez enquanto essa relação está sendo desenvolvida.
É em relação ao texto que o filme dá sua derrapada, mas o carro não chega a colidir. A forma que o sexo é abordada é muito interessante. Babygirl é um filme 18+, mas não vai para o caminho de tornar tudo aquilo explícito, os encontros são filmados muito baseado nos detalhes, em especial os olhares dos dois. Fora dos encontros, o longa não cria um juízo moral sobre a relação.
Os amantes estão vivendo essa fantasia desejada pelos dois em um espaço seguro longe das amarras da sociedade. Babygirl derrapa em não colocar os pontos de virada da trama de forma orgânica, alguns diálogos são “estranhos” pois os personagens acabam dizendo exatamente aquilo que a Romy está passando, deixando claro que aquela conversa serve para fazer a trama andar. Em outros momentos, os outros personagens secundários existem para contrapor a história dos amantes. Quando culmina no conflito fica nítido a dificuldade do longa de estabelecer essas situações de forma orgânica.
Por fim, temos um bom filme. Halina Reijn constrói uma história muito interessante em Babygirl de relação entre os amantes sem cair em moralismo, o que torna a história mais envolvente. As cenas são muito interessantes, com destaque a cena da festa em que mostra muito bem a adrenalina daquela relação. Os pontos de viradas da trama não acontecem de uma forma muito orgânica, dá a sensação de que faltam alguns pequenos ajustes para sair melhor, mas nada que arruine o filme.
Estudante de letras, com interesse em filme de hominho e literatura de fantasia. Curte assistir e praticar esportes, adora ir ao cinema e é torcedor do Palmeiras.