Aves de Rapina

Aves de Rapina | Foi mesmo uma emancipação fabulosa

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Aves de Rapina: Filme comandado pela Arlequina é despretensioso, mas tem mensagem forte e diverte bastante com suas cenas de pancadaria.

Já faz um tempo que a personagem vem ganhando destaque nas HQs, tendo um título próprio e se desvencilhando do Coringa. Bem, agora chegou o momento dessa emancipação acontecer, também, nos cinemas.

Se existe alguma coisa que deu certo no tão criticado Esquadrão Suicida foi a Arlequina (Margot Robbie). Além de inspirar uma legião de cosplayers que invadiram as comic cons de todo mundo, a Arlequina cresceu dentro da DC e se tornou uma das personagens mais importantes da editora, ganhando, inclusive, uma série animada própria.

Aves de Rapina me lembra muito aquelas histórias que vêm no meio de um encadernado. Não tenta ser a melhor em momento algum, mas te diverte bastante durante a leitura. O filme tem a mesma pegada, você não sente as horas passando e se diverte com toda a loucura acontecendo, afinal, o filme é narrado pela Arlequina e não é nem um pouco linear. Conforme a história vai avançando, ela lembra que esqueceu de contar algo e somos jogados pra outra situação, isso deixa a trama divertida e interessante.

Sobre a história em si, ela é bem simples. O chefão da Máfia, Roman Sionis, o Máscara Negra (Ewan McGregor), quer um raro diamante que pertenceu a uma antiga família de mafiosos de Gotham. Acontece que o diamante é roubado por Cassandra Cain (Ella Jay Basco) e assim começa uma louca perseguição pela menina e o diamante.

Mas, o trunfo principal aqui é a mensagem que Aves de Rapina carrega. Harley a todo momento é lembrada como a “garota do Coringa” sendo que ela mesma admite que muitas das façanhas do palhaço do crime, na verdade, foram dela. São situações que vemos normalmente no dia-a-dia, onde a mulher muitas vezes não recebe os devidos créditos ou em vários casos em que ganham menos que homens, sendo que a função que desempenham é a mesma. Vemos isso, também, em Renee Montoya (Rosie Perez), uma das detetives mais brilhantes da cidade que solucionou um importante crime nos anos 80 e perdeu os créditos pro seu parceiro, que acabou se tornando capitão em seu lugar.

A trama mostra situações de machismo no cotidiano sem deixar nada forçado, é tudo muito natural. Inclusive em uma cena onde uma das personagens está bêbada e alguém tenta se aproveitar da situação. Vemos esse tipo de coisa até em reality show com todo mundo olhando, imagina por aí afora.

E, se alguém tinha alguma dúvida de que a Arlequina conseguiria carregar um filme sozinha, aqui está a prova. Margot Robbie está ainda mais à vontade no papel e parece se divertir horrores durante o filme todo. As outras personagens também estão ótimas, mas vale um destaque pra Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell), todas as cenas dela são incríveis.

O único ponto baixo da equipe é a Caçadora (Mary Elizabeth Winstead). Ela parece meio jogada na tela e as tentativas de alívio cômico não casam muito bem. Cassandra Cain, apesar de não ter absolutamente nada a ver com os quadrinhos, é uma personagem muito interessante. Só acho que poderiam ter dado outro nome a ela, acabaram queimando uma personagem que seria muito legal de ver numa possível sequência.

Ewan McGregor também entrega um bom vilão, bem caricato e fora de controle, seu Roman Sionis é muito egocêntrico e manipulador. Ele merecia mais tempo em tela para um melhor aproveitamento, mas está muito bem quando dá as caras. Outro personagem que acaba sendo meio que mal utilizado é seu braço direito, Victor Zsasz (Chris Messina). Essa não é a primeira vez que o vilão é usado apenas como capanga, em Batman Begins ele tem até menos tempo de tela. Literalmente entra mudo e sai calado.

Quanto à ação e pancadaria, aqui temos o elemento chave pra diversão. Mesmo com a classificação sendo para maiores, o filme não se apoia em sangue e mutilações gratuitamente. A diretora Cathy Yan soube utilizar esse recuso como poucos e insere cirurgicamente as cenas com um tom a mais de violência. A Arlequina parece um caminhão desgovernado quando precisa entrar em ação e toda sua insanidade deixa as sequências ainda mais legais.

Uma última coisa que gostaria de comentar é a abordagem feita em Gotham. Temos uma Gotham diferente aqui, uma Gotham vista de dia, mas com os malucos à solta nela. Há os becos, a fumaça, os prédios, mas também os bairros. Não sei vocês, mas eu senti muito a vibe de quadrinhos nessas horas, temos mais cenas de dia que o habitual.

Por fim, Aves de Rapina é um filme que passa uma mensagem legal, empodera suas mulheres e diverte bastante durante o percurso. Foi uma emancipação fabulosa sim.


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