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Até Que A Música Pare | Filme é uma jornada confortável em territórios distintos

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Boa produção nacional, Até que a música pare tem grandes revelações em seu elenco e produção.


O histórico do cinema nacional de dar vozes a figuras negligenciadas pelo mercado não pode ser subestimado. Enquanto o padrão de atores e atrizes nas produções consideradas rentáveis é dos mais conhecidos, da idade aos padrões estéticos. Se Leon Hirszman explorou temores e tristezas oriundos da chegada da “maior idade” entre casais consolidados em seu “Eles Não Usam Black Tie” em 1981, em 2024 já tivemos o bom “A Metade de Nós” como representante desta temática. 

Agora, com Até que a Música Pare, temos outro exemplar, agora lidando com temas menos fortes porém com suas próprias qualidades e diferenciais. A trama, roteirizada pela também diretora Cristiane Oliveira (em colaboração com Gustavo Galvão), tem como protagonista Chiara (Cibele Tedesco), uma matriarca de uma família de descendentes de italianos a qual se vê obrigada a lidar com a partida de seu último filho para morar sozinho. Após tal evento, esta decide partir com o marido Alfredo (Hugo Lorensatti) para uma viagem de negócios, onde acaba por refletir sobre suas convicções e também sobre seus relacionamentos familiares. 

Cibele Tedesco e Hugo Lorensatti

Trata-se de uma estrutura de enredo padrão do cinema brasileiro: o indivíduo vê suas perspectivas confrontadas seja por fatores externos (as descobertas sobre práticas de seu marido, o confronto geracional) ou pelo interior. Em momentos, o roteiro de Até que a Música Pare mostra-se robusto para permitir uma gradação natural de acontecimentos e situações as quais favoreçam mudanças para a personagem, em especial a pequena tartaruga com a qual esta é presenteada. Em outros, o pecado está na verbalização de sentimentos, com os diálogos soando por vezes mais expositivos do que analíticos. 

Performado tanto em português quanto em dialeto variante do italiano, o longa é mais um exemplar com roteiro simples para todos os efeitos, porém com virtuosidade em sua direção. Cristiane Oliveira une ótimo posicionamento de câmera à fotografia e o design de produção, permitindo composições extremamente bem iluminadas e coloridas, com cenários decorados de maneira rica, as quais também favorecem as performances em posicionamento e ao permitirem a linguagem corporal destes. A escolha por atores pouco conhecidos permite também imersão ao universo a partir das pessoas e seu contexto social e cultural retratados na narrativa. 

Cibele Tedesco como Chiara em Até que a música pare

As tomadas longas em ambientes variados permitem de maneira orgânica não só variedade como progressão natural da narrativa em Até que a Música Pare. Progressão, aliás, ecoada pela excelente performance de Cibele Tedesco, a qual imprime veracidade a sua personagem em sua dicção impecável de ambos os idiomas, nas variações genuínas de humor e nas representações de introspecção e reflexão em momentos de diálogo conflituosos com figuras diferentes de seu marido. 

Amparado por uma excelente conclusão graças novamente ao ótimo trabalho de atuação e direção, Até que a Música Pare é mais uma boa produção que revela uma lista de talentos consideráveis. Que o otimismo com o qual a diretora enxerga sua protagonista seja ecoado pelo sucesso das revelações da produção. 

Sinopse de Até que a música pare:

Depois que o último filho sai de casa, Chiara, matriarca de uma família descendente de italianos, decide acompanhar o marido em suas viagens como vendedor pelos botecos da Serra Gaúcha. Uma tartaruga e baralhos de carta colocarão à prova mais de 50 anos de vida a dois.

O longa da premiada cineasta gaúcha Cristiane Oliveira, estreia hoje (3) nos cinemas. Este é o terceiro longa da diretora, que tem no currículo “Mulher do Pai” (prêmios de Direção, Fotografia e Atriz Coadjuvante no Festival do Rio) e “A primeira morte de Joana” (prêmio do Júri da Crítica em Gramado). A obra, que fez sua estreia no Festival do Rio (2023) na Mostra Competitiva da Première Brasil, é produzida pela Okna Produções em coprodução com a italiana Solaria Films e distribuída pela Pandora Filmes.

Assista ao trailer:


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