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Aqui | Após desastre de Pinóquio, Zemeckis e equipe caminham bem no drama familiar

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Nova parceria de Tom Hanks com Robert Zemeckis, Aqui, quer atualizar o sucesso de outrora e colide com vontade de inovar. 


Poucas vezes na vida eu vi um filme o qual representasse tanto a expressão “middle of the road” (“meio do caminho”, grosso modo) quanto “Aqui”. tentativa de retomar a união entre a equipe criativa por trás do sucesso de Forrest Gump, no que se inclui o diretor Robert Zemeckis (após o desastre do remake de Pinóquio da Disney), o casal formado por Tom Hanks e Robin Wright, o diretor de fotografia Don Burgess, o roteirista Eric Roth e o compositor Alan Silvestri. 

Após anos sendo conhecido como o “rei do CGI bisonho”, o mestre por trás da trilogia De Volta para o Futuro se afundou na busca pela próxima inovação tecnológica e, mesmo após ter tido um grande sucesso com o cinema adulto em O Voo, não resistiu e acabou indo parar num buraco do qual demora pra conseguir sair. Os problemas que o perseguiram vêm em alta aqui, mas ao mesmo tempo os vislumbres do Zemeckis de outrora acabam tornando este longa decente o bastante para não ofender ninguém dentro de 104 minutos. 



A premissa tem potencial: acompanhamos de um ângulo único diversos períodos de formação e vivência de uma casa, desde quando o terreno desta era pisoteado por dinossauros (!), até o centro narrativo habitado pelo patriarca Al (Paul Bettany), sua esposa Rose (Kelly Reilly), seus filhos onde o único a ganhar relevância é Richard (Tom Hanks) e Margaret, a esposa deste (Robin Wright). Em meio a contrastes temporais vemos os esforços daquela família para manter-se de pé emocional e financeiramente durante séculos da história estadunidense.

As intervenções históricas também são um traço herdado por Forrest Gump, porém o uso de tecnologia minimalista da produção de 1994 definitivamente não se faz presente aqui. Pelo contrário, o uso de CGI é o grande calcanhar de Aquiles de “Aqui”. Do exagero extravagante da floresta com seu pássaro do Vale da Estranheza até os bizarros efeitos de rejuvenescimento digital no rosto dos atores, os quais inevitavelmente os fazem parecer com bonecos de cera de milhões de dólares, esta produção peca sempre que tenta parecer um experimento multimilionário. 



Já a estratégia de manter a câmera num único ângulo, com os atores se movimentando por diversas posições e interagindo com objetos dos mais distintos tem mais acertos. A estética moderna, com muitos close ups, saltos de edição e cenários simplórios (a estética de shopping Iguatemi estabelecida pela Disney é a grande culpada) dá espaço a cenários bem decorados e ótimas interações dos atores, os quais dão vida à produção a partir de seus posicionamentos e reações ao que acontece. 

Num instante, uma aproximação de Paul Bettany (o destaque surpreendente do filme) em relação à câmera consegue expressar muito mais emoções do que uma edição chamativa. Este tipo de movimentação de atores de corpo inteiro com relação ao cenário traz uma vivacidade a qual faz falta demais à Hollywood moderna. Nem sempre o cenário parece verossímil, e o maior ofensor é o segmento ocasional envolvendo a família de um aviador, onde as texturas parecem falsas. 

O excesso de “pedaços de transição” de modo a contrastar diferentes momentos numa mesma cena (o cenário contemporâneo com quadradinhos na tela mostrando diferentes períodos) acaba chamando mais atenção para si do que precisava. A verdade é que a nova parceria de Zemeckis com Hanks funciona devidamente quando concentra-se em mostrar pessoas normais dando o seu melhor para demonstrar amor umas pelas outras.



Talvez a qualidade aqui reflita justamente o dilema dos personagens: na busca por acertar o máximo possível o público moderno, aparentemente ansioso por tecnologia, há um paralelo com como o protagonista troca a paixão pela pintura por algo “palatável” (tal como o segmento de vendas). A produção deixa, assim como ele, algo excelente que poderia oferecer de forma passional por convencionalidades as quais levam a resultados duvidosos. 

Porém, assim como Richard, no fim do dia, o carinho oferecido em cena acaba compensando as imperfeições. “Aqui” não chega a ser um bom filme, porém levando em conta o poço sem fundo onde Zemeckis e Hanks conseguiram se enfiar dois anos atrás no inferno de um Diabo o qual trocou os chifres por orelhas redondas, trata-se de uma tentativa mais do que válida de se reconectar de maneira genuína com espectadores os quais só querem um drama digno de celebrações de fim e início de ano. 

Aqui – Trailer


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