anora-capa-topico-42

Anora | Conservadorismo e Misoginia Pós-Oscar

Compartilhe:

Ao utilizarem argumentos superficiais, muitas pessoas acabam provando, na verdade, a importância de filmes como Anora.


O filme de Sean Baker tem chamado atenção após ser o grande vencedor do Oscar de 2025, seja de forma positiva ou extremamente negativa. O tema do filme domina as discussões pós-premiação. O mais recente trabalho do diretor acompanha a vida de Anora, interpretada por Mikey Madison, uma trabalhadora do sexo que, ao receber uma oportunidade de mudar de vida, não pensa duas vezes e agarra o que pode ser sua grande chance.

O que começa como uma versão contemporânea de Uma Linda Mulher toma rumos inesperados ao utilizar o clichê da ascensão social para discutir a falência do sonho americano. A mulher, filha de imigrantes e vítima das ilusões do capitalismo, se vê confrontada com a dura realidade dos estigmas que esse sistema impõe.



O filme também aborda questões de classe e gênero, mostrando a relação de Anora com os homens que ocupam posições de poder e controle sobre sua vida. Ela é constantemente forçada a confrontá-los e a se fazer ouvir, encontrando conforto apenas em um homem de classe similar à sua.

A discussão sobre Anora poderia parar nessas temáticas. Porém, infelizmente, após conquistar notoriedade através de diversos prêmios, principalmente o Oscar, o filme e, especialmente, Mikey Madison, passaram a ser alvos de ataques constantes. Tais ataques tentam diminuir o valor de seu trabalho por meio de um moralismo descontextualizado, inadequado para o momento atual, ou para qualquer outro momento, na verdade. É difícil imaginar como essas mesmas pessoas reagiriam, por exemplo, à pornochanchada, um gênero fundamental para a construção do cinema nacional.



Muito se fala sobre como premiar Madison, em vez de Demi Moore, seria uma prova do ponto do filme A Substância. Esse argumento, superficial por si só, se utiliza da comparação com Moore que, assim como outras atrizes, foi acusada de não ter talento e de conseguir papéis apenas por sua beleza. Agora, esse mesmo raciocínio é aplicado a Mikey. Na época de seu lançamento, alguns críticos observaram que A Substância poderia ter sido inovador na forma, mas falhava em sua mensagem, que era repetitiva ao longo do filme. E, bem, parece que essa mensagem não foi repetida o suficiente para que seus fãs realmente entendessem o que ela tinha a dizer.

A afirmação de que Madison é muito jovem para ganhar um Oscar é, mais uma vez, uma forma de diminuir as conquistas de uma mulher. Insinuar que sua vitória ocorreu apenas em nome da juventude é, no mínimo, uma demonstração de ignorância, especialmente quando observamos as últimas ganhadoras, como Frances McDormand, Jessica Chastain e Michelle Yeoh.



No final, nada do que é dito se sustenta. É apenas mais um subterfúgio para a misoginia e o conservadorismo. Para dizer o mínimo. E Anora? Bem, gostando ou não do filme por razões válidas, espero que mais obras como essa venham, pois as que saíram até agora não foram suficientes para desconstruir certos preconceitos. Temas que parecem já ter sido utilizados em excesso e com didática vão ter que ser repetidos mais uma vez.  

Confira o trailer de Anora:


Compartilhe:

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *