Pudemos acompanhar um rápido bate-papo no Anime Friends com Wendel Bezerra, a voz oficial do Goku e do Batman do Robert Pattinson!
Os dubladores são parte fundamental da nossa cultura pop e Wendel Bezerra é um dos que estão na prateleira de cima. A voz que dá vida ao Goku e ao Bob Esponja há tantos anos é um dos dubladores mais celebrados pelos fãs. Durante o Anime Friends, Wendel fez uma apresentação memorável e levou o público à loucura.
Por conta do horário, o bate papo que rolou na sala de imprensa teve que ser rápido. Muito simpático e prestativo, Wendell respondeu algumas perguntas e nesse pouco tempo percebemos o quão apaixonado ele é pela dublagem. Confira!
Qual foi o maior desafio da sua carreira?
O maior é difícil dizer, sempre foram surgindo novos, mas fazer o Bob Esponja talvez tenha sido um dos primeiros. Porque era uma voz caricata e as pessoas não estavam acostumadas a me ouvirem fazer uma voz assim e já faz mais de 20 anos que faço essa voz. É um grande desafio.
Teve um filme chamado “Seis Vezes Confusão” em que eu dublei 7 personagens. Foi um grande desafio, é um dos filmes mais difíceis que eu já dublei. E talvez o mais recente seja o Batman do Robert Pattinson. Porque teria que ser uma voz de uma região que eu não estou acostumado a usar, e também não poderia ficar parecendo com o Goku Black.
Foram vários, é que a gente sempre lembra do último e parece que foi o mais desafiador. Mas esses estão no Top 3.
O que foi mais difícil nesse período de pandemia com os estúdios fechados? Dublar ou dirigir? Como foi a experiência?
Nesse período de pandemia para a dublagem eu acabo tendo uma perspectiva diferente da maioria dos dubladores. Porque uma das minhas principais funções hoje é ser dono de estúdios de dublagem, então os dubladores tem a sua percepção diária e eu como empresário tinha outra.
Você precisa adequar a empresa inteira para que aquilo funcione. Os técnicos precisam aprender como se grava dessa forma, os mixadores precisam aprender a equalizar diferente de como faziam, o cliente tem que entender que os prazos serão mais difíceis ou que a qualidade do som vai ficar prejudicada.
Então, pra mim, a grande dificuldade foi lidar com essa parte nova. Eu não tenho um home studio, então evito gravar remotamente. Mas, quando eu gravo, faço da minha empresa e não de um estúdio caseiro, então nesse aspecto a qualidade do áudio não se perde nem um pouco.
Mas é um período no qual todos nós ainda estamos aprendendo, nos adaptando e esse “todos nós” envolve todo mundo mesmo. Dubladores, diretores, distribuidores, canais de streaming, empresas de dublagem e o próprio público também, que no começo reclamou bastante por não haver produtos dublados, mas era por conta da pandemia.
Mas eu espero que a gente logo logo volte a trabalhar a moda antiga. Sou muito old school, prefiro trabalhar presencialmente dentro de um estúdio, com técnicos de captação, diretor do meu lado e a qualidade de áudio e vídeo do jeito que tem que ser, como o público merece, como os produtores merecem. Então espero que um dia a gente volte à normalidade.
Você acha que a dublagem tem um papel importante para as pessoas e para a sociedade em geral?
Eu descobri isso com o público, com os eventos, a dublagem tem sim. Às vezes, a gente acha que a função social da dublagem é ajudar no vocabulário, ou é levar o entretenimento de forma inclusiva para quem tem deficiência visual ou qualquer dificuldade cognitiva, mas vai muito, muito além disso.
Primeiro que é uma maneira de você preservar, valorizar e levar a nossa linguagem e cultura para todo país. Você torna o entretenimento, de uma maneira geral, de todo globo terrestre, acessível para mais de 200 milhões de pessoas, independentemente de idade e classe social.
E, sim, descobri que os nossos personagens, da forma que a gente dá vida a eles, podem mudar de verdade a vida das pessoas. Tem gente que sai da depressão, que supera o falecimento de um ente querido, que se livra de momentos terríveis, tudo através das nossas vozes. Isso mostra como a dublagem pode tocar as pessoas.
Esses relatos, que recebo do público ao longo de 20 anos, fez com que eu entendesse muito mais o quão profundo é o nosso trabalho. Ele não termina numa telinha, ele toca corações, ele ajuda pessoas a vencerem doenças, por querer se superar com aquele personagem (com a sua voz).
Por isso a interpretação é tão importante, porque se você conseguir passar a mensagem que o autor tinha na sua mente, se você conseguir levar emoções de verdade naquilo, você pode sim transformar e ajudar a vida de muitas pessoas.
Eu tento levar essa mensagem para os dubladores, para que eles sintam essa importância e se entreguem cada vez mais, verdadeiramente, com amor, paixão e profissionalismo. Porque o público já nos dá coisa demais, então o mínimo que a gente pode fazer é entregar o trabalho de volta com verdade, paixão e empatia.
Você como Bear Grylls (À Prova de Tudo) não pode correr no estúdio nem escalar montanhas. Qual é a dificuldade dentro de um estúdio?
Ai vai muito da parte técnica. Eu sou um cara que mantém o olho na tela demais, então consigo fazer com razoável naturalidade. A parte difícil é quando você tem que ficar ofegante demais, porque aí da hiperventilação e você fica tonto, isso já aconteceu! Tive que falar “espera aí, me dá um tempo pra voltar ao normal que eu tô tonto”. Mas o Bear Grylls é um dos trabalhos mais legais que eu já fiz e faço até hoje.
Agradecemos tanto ao Wendel Bezerra por disponibilizar um pouco do seu tempo para nos presentear com essa entrevista, quanto ao Anime Friends por proporcionar esse encontro memorável. Foi muito divertido estar presente!
Confira outras entrevistas do Anime Friends:
Hiroshi Watari (AQUI), Matsuko Mawatari (AQUI), Takumi Tsutsui (AQUI) e Eduardo Miranda (AQUI).
Publicitário e jornalista que é apaixonado por cultura pop, coleciona tudo que vê pela frente, adora uma piada ruim e ama a revisora desse site.