Diretamente do Anime Friends Rio, Guilherme Briggs concedeu um pouco do seu tempo para um bate-papo na sala de imprensa e a gente conta como foi!
Dono de uma voz impressionante e de uma simpatia que não tem tamanho, Guilherme Briggs segue marcando gerações com dublagens épicas. No segundo dia do Anime Friends Rio (17/07), ele preencheu o evento com sua energia contagiante e provou, mais uma vez, porque é tão amado pelos fãs.
Muito simpático, nosso Superman bateu um papo super legal com a galera na sala de imprensa e respondeu as perguntas com bastante entusiasmo. Confira como foi!
Como foi a experiência de dublar o Brook em One Piece? Ele é um personagem interessante?
Eu dublei o Brook só nos longas e foi muito divertido. Estou aprendendo sobre o personagem, já li a parte dele no mangá e assisti o anime em japonês para entender ele melhor, pra quando chegar a série poder dublar ele. Vamos torcer pra que chegue aqui.
Por enquanto só dublei os filmes, foi pouca coisa, mas tô em aquecimento para dublar o Brook, ele é interessante demais, já estou louco para chegar nas canções!
Dentro da dublagem existem vários personagens onde você tem que colocar um timbre de voz diferente. Teve alguma dublagem que você fez, onde não conseguiu fazer por muito tempo aquela mesma voz e com isso acabou mudando ela?
Fico muito chateado quando isso acontece, mas até agora consegui segurar. Tipo o Eduardo da Mansão Foster Para Amigos Imaginários, que tem uma voz bem rouca, teve uma hora ali que eu fiquei com a garganta doendo, mas eu seguro, ou então cancelo e jogo pro dia seguinte. Porque mudar a voz no meio do processo é complicado.
O Alexandre Moreno teve que fazer isso no Padrinhos Mágicos. No Crocker ele fazia uma voz meio arranhada e depois teve que mudar porque não estava conseguindo segurar. E isso acontece, a voz é muito sacrificante.
Como está sendo a experiência de gravar o Sr. Verissimo? Como o Cellbit entrou em contato com você para fazer esse personagem?
O Cellbit é meu fã e entrou em contato comigo. Mas eu fiz só o trailer, ainda não foi feito nada do game. Mas, quando for a hora eu farei com o maior carinho e com a orientação dele. Eu adoro histórias de fantasmas, realidades paralelas, assombração, então estou na minha praia, gosto muito. Vou fazer com maior carinho, gosto mesmo!
Qual o maior desafio para um dublador iniciante aqui no Brasil?
O maior desafio para o dublador é aceitar que ele tem que melhorar e nunca entregar os pontos. É preciso ficar sempre muito atento. Tem dias que você não vai estar bem, o diretor vai notar quando isso acontecer e você não pode se sentir culpado por isso, atrapalha, causa insegurança e a gente trabalha com a emoção. Aconselho até que evite pedir desculpas demais, siga em frente e ganhe a sua segurança. É complicado trabalhar com emoção assim.
Qual foi o personagem que mais desafiou a sua voz?
Sempre falo que foi o Grinch do Jim Carrey, ele é um gênio. Foi complicado porque ele está em um nível muito alto, tive que suar pra seguir o Jim Carrey.
Com a pandemia, você foi pra Teresópolis para ter uma vida mais tranquila. Como tem sido para você esse retorno às feiras e festivais?
Sou muito introvertido e não estou acostumado com a multidão. Mas, por conta do carinho das pessoas, a exceção são os eventos. Eu me acostumei, gosto de vocês, desse carinho, é muito gostoso e as pessoas me respeitam. Aí eu consigo ir. Mas, por exemplo, não consigo ir ao Maracanã assistir futebol, carnaval…não aguento, não é pra mim. A única exceção são os eventos mesmo, me sinto em casa. Sou nerd como vocês.
Sobre a questão de palavrões na dublagem, já disseram que você é um cara muito restrito a isso. Você está mais maleável agora?
Sempre fui maleável a palavrão e acho importante. Desde que, por exemplo, no original não tenha e aí eu comece a encher de palavrão. Os filmes do Seth Rogen estão cheios (de palavrões) e eu falo, sem problema nenhum. É um personagem, não sou eu. Não costumo falar palavrão, só acho engraçado, mas não tenho problema nenhum.
Como você vem observando como dublador, essa massa de canais de redublagem imitando a voz de dubladores que já existem, como você, Jorge Lucas entre outros?
Acho que imitar a voz é criativo. Mas, é importante que a pessoa encontre seu próprio caminho também, para não ficar só imitando. Ela tem que achar sua própria voz e estilo, porque aí a gente ganha vozes novas. Mas, não me incomodo se a pessoa imitar a minha voz, de brincadeira não tem problema.
Quando você começou, disse que gravava em fitas de videocassete e que fazia fã-dublagem Star Trek. O que você acha da galera que faz fã-dublagem?
A fã-dublagem é criatividade, é humor, é um exercício legal. Mas, existe a fã-dublagem e a dublagem, mesmo. A pessoa tem que usar a fã-dublagem para se divertir e praticar, mas quando ela for dublar profissionalmente, vai encontrar outras regras e coisas para observar.
Pois ela pode pegar alguns vícios na fã-dublagem e aí não vai ter muito naturalismo. Então tem que prestar atenção e não ficar chateado quando for dublar profissionalmente e o diretor pedir pra você fazer diferente. É aceitar outros caminhos. Mas acho a fã-dublagem ótima pra pessoa praticar e brincar. É criativo, é arte, eu fazia também.
Com a quantidade de streaming e a produção de conteúdo cada vez maior, você vê alguma falta de profissional no mercado ou alguma queda de qualidade nessas dublagens?
A gente tá com muito streaming, né? Tem uma massa de trabalho absurda e às vezes a gente não dá nem conta. Alguns estúdios podem fazer as dublagens correndo, o que é errado. Aí eu realmente fico triste, porque é legal você fazer com qualidade.
Mas, alguns clientes querem velocidade porque tem que colocar no ar, aí o estúdio tem que correr. Nisso fica esse cabo de força, entre qualidade e velocidade. Mas, isso é no mundo inteiro, não só no Brasil, tem uma massa gigante de projetos pra fazer. E aí, como faz? Às vezes tem que dar uma corridinha, infelizmente.
Por mim faria tudo com calma, mas entendo que às vezes o mercado tem muita coisa e aí acaba sendo atropelado pela produção. É uma indústria, né?
Se você encerrasse a sua carreira de dublador hoje, olhando para trás e vendo o seu legado, você acha que seria inspirador para as demais gerações?
Eu não sei, futuramente eu não vou existir mais nem como voz, porque talvez tudo seja redublado. Vai melhorar a tecnologia do áudio, então, de repente daqui a 20, 30 anos, tudo que eu fiz pode ser redublado para melhorar o áudio e aí vou ser esquecido. Mas, isso não tem problema, é normal. Que nem aquelas dublagens antigas, que são redubladas.
Pra mim não tem problema, estou agradando essa geração de agora, as pessoas gostam, mas estou consciente de que um dia vai se perder e tudo será deletado. Novas vozes vão aparecer e está tudo bem.
Ontem a dubladora Miriam Ficher falou sobre a vulnerabilidade dos dubladores, principalmente dos mais velhos. O que você pensa sobre isso?
Fico preocupado com essa vulnerabilidade dos mais idosos. A Miriam é uma pessoa maravilhosa, uma pessoa humana que se preocupa sempre com os dubladores. Ela faz vaquinha pra gente ajudar, “vamos juntar dinheiro pra ajudar na operação de fulano”.
Admiro muito a Mirian, é minha amiga, ela tá no caminho certo de ser humano e profissional. A gente tem que se unir, ajudar os colegas, fazer eventos e vaquinhas para arrecadar dinheiro, porque é complicado aqui no Brasil, a aposentadoria, vocês sabem, não preciso falar.
Eu me preocupo com isso e quero que meus colegas mais velhinhos tenham apoio e que a gente continue ajudando e tendo mais pessoas como a Miriam Ficher, que tem essa consciência tão bonita. É fundamental, se não a gente fica largado mesmo. Quanto a mim, me preocupo sim, não quero deixar minha família desamparada. O que me incomoda não é ficar velhinho, é eu não conseguir trabalhar e sustentar a minha família.
Guilherme Briggs é um dos mais amados dubladores do Brasil, famoso por trabalhos incríveis como Buzz Lightyear, Cosmo dos Padrinhos Mágicos, Rei Julien, Optimus Prime, entre outros tão icônicos. Por isso, esse momento foi tão especial para todos presentes.
Fica aqui o nosso agradecimento ao Guilherme Briggs, que cedeu seu tempo para falar conosco e também à organização do Anime Friends, pela oportunidade desse encontro.
Confira as demais entrevistas do Anime Friends Rio:
Hiroshi Watari (AQUI), Matsuko Mawatari (AQUI), Takumi Tsutsui (AQUI), Eduardo Miranda (AQUI) e Wendell Bezerra (AQUI).
Publicitário e jornalista que é apaixonado por cultura pop, coleciona tudo que vê pela frente, adora uma piada ruim e ama a revisora desse site.