Em Toy Story 4, a saga de Woody, Buzz e Cia chega a um novo patamar e fecha com louvor o ciclo dessa franquia que começou há 24 anos. Texto com SPOILERS.
Woody e sua turma conquistaram toda uma geração desde os longínquos anos 90. Há 24 anos, Toy Story chegava aos cinemas, um filme que marcaria a infância de muitas crianças e levaria os filmes de animação a um outro nível, pois fora o primeiro longa-metragem inteiramente realizado em computação gráfica.
Todos pensavam que o fim do ciclo desses brinquedos seria no terceiro Toy Story. Aquela cena final do Andy passando sua infância para as pequenas mãos da Bonnie fecharia com chave de ouro todas as suas aventuras. Porém, a Pixar resolveu arriscar um quarto filme. E, que bom! Pois, ainda havia sim mais a ser explorado!
Sabemos que o conceito principal apresentado e razão de toda a garra do Woody, por exemplo, era de que os brinquedos foram feitos para ser de alguma criança. Por isso, o cowboy lutava tanto nos outros filmes para retornar ao Andy, salvar os amigos e etc. Pois, ele sabia que o menino precisava de seus brinquedos. Mas, e quando não precisasse mais? Quando os interesses da Bonnie mudassem? O que acontece com os brinquedos perdidos, como tantos que ficaram para trás na jornada da animação? Brinquedos como a Betty, o Rocky, RC, Wheezy. Toy Story 4 nos trouxe um pouco dessas respostas.
A nova aventura de Woody, Buzz, Jessie e toda a turma começa quando, no primeiro dia de aula, Bonnie cria, a partir de coisas tiradas do lixo, um novo brinquedo. Garfinho (Forky), como é chamado, se torna seu refúgio e a menina fica muito apegada a ele. Woody, por sua vez, estava cada vez mais esquecido dentro do armário, sem participar das brincadeiras da criança. Embora, tente parecer que está tudo bem quanto a isso, no fundo, ele sabe que Bonnie está crescendo e seus interesses mudando, assim como Andy.
Garfinho, um personagem complexo e repleto de alegorias, como fora criado a partir do lixo, insiste em voltar para ele e não consegue se enxergar como um brinquedo. Dessa forma, o cowboy toma para si a missão de impedir que isso aconteça, tentando encontrar algo que ainda possa fazer para ser útil, uma forma de se autoconfortar diante do possível destino de um armário empoeirado.
Durante uma viagem com a família, Garfinho se perde e Woody vai procurá-lo. Surge, então, uma amizade entre os dois e o novo personagem consegue, enfim, se encontrar na sua incipiente existência. Porém, diversos eventos acontecem para impedir que eles retornem para a menina. E é aqui que uma antiga personagem retorna e traz consigo novas possibilidades.
Betty está diferente de quando Woody a conhecia. A meiga pastorinha agora dá lugar a uma boneca aventureira, destemida, determinada a encarar o mundo e ser livre. Porém, o amor no olhar dos dois e a felicidade de estarem juntos são os mesmos.
Novos personagens são apresentados com histórias diversas, mas unidas pelo mesmo sentimento. Como Duke Caboom (dublado por Keanu Reeves!) que, por exemplo, tem dificuldade em aceitar quem é, o Coelhinho e o Patinho que, após anos pendurados como prêmios de um parque de diversões, querem ser amados por uma criança e a que é previamente apresentada como a antagonista do filme, mas que no fim acaba se revelando apenas um brinquedo que igualmente quer ter uma chance de ter sua criança, a boneca Gabby Gabby.
A história de Toy Story 4se desenrola de forma linear, gostosa de assistir, com sequências divertidas e emocionantes. Cada cena com sua carga emocional contida de forma única e até dolorosa aos fãs mais antigos. O destino de Garfinho e Woody, que acabaram ficando com o protagonismo pra si, foi algo bonito de ver. Os produtores exploraram bem a temática dos dois, seus sentimentos ainda que implícitos.
O do Garfinho de não se sentir pertecente a esse mundo dos brinquedos e do Woody, de se aceitar como um brinquedo ao qual nem Bonnie nem Andy precisam mais e que tudo bem por isso. Tudo bem um brinquedo não ser mais necessário para uma criança. Sua “vida” não acaba ali. Um infinito de possibilidades surge com isso.
O conceito por trás desses personagens é muito mais do que apenas divertir, é mostrar que as imposições externas não deve nos impedir de sermos quem somos. São lições que, como sempre, a Pixar nos dá diante de um filme colorido e divertido. As entrelinhas são sempre sensacionais!
Agora, no quesito computação gráfica, não há elogio possível sem hiperbolizar para descrever o que nos foi entregue. É simplesmente fenomenal! Excelente! É perfeito! Cada personagem tinha sua textura ali, cada um deles, suas vestes, sua pele, sendo felpuda ou de porcelana. Cada detalhe em sua infinita perfeição. A sequência inicial da chuva caindo é tão realista que parece que estamos vendo um live-action! É incrível e merece todos os elogios possíveis.
Mais uma vez, a Pixar nos apresentou uma animação sem igual, feita com muito carinho e mantiveram a qualidade dos filmes anteriores, não perderam sua essência, a gente vê o esforço em cada cena. Pena que, segundo os produtores em diversas entrevistas e, também, o próprio Tom Hanks (voz do Xerife Woody), esse será o último filme de Toy Story nos cinemas.
“Essa é a conclusão da franquia. As últimas sessões de gravação foram difíceis. Foi a despedida de Woody, Buzz, Andy, Bonnie.. Foi um momento muito emocionante para todos”, disse Tom Hanks em entrevista ao The Ellen Show.
Porém, agora há novos horizontes para explorar, outras vertentes agora são possíveis. Como, por exemplo, já foi anunciado que Betty e Garfinho ganharão projetos derivados no Disney+. Garfinho terá uma série intitulada “Forky Asks a Question” e Betty irá estrelar um curta-animado.
Portanto, ainda veremos alguns desses personagens queridos por aí. Mas, a saudade da turma principal de Toy Story já deixa um nó na garganta. Saber que possivelmente não teremos mais dessa amizade tão bonita entre o cowboy e o astronauta é bem triste. Mas, a mensagem foi passada. Não precisamos ficar onde não somos mais nós mesmos, podemos nos reformular, nos encontrar, ir adiante, seguir em frente, viver novas aventuras. Como o melhor conselho que a voz interior do Buzz Lightyear poderia dar: “Ao Infinito e Além!”
Ps.: Um muito obrigada à equipe de dublagem brasileira que colocou um “o meu também é Betty!” em meio ao filme e me fez chorar de rir com a referência!
Apaixonada por arte, música, literatura e filosofia. Adora a Disney, Harry Potter e Sherlock, além de ser viciada em memes. Ri de tudo, é meio perdida nas ideias, viajante do tempo nas horas vagas, só anda com fones nos ouvidos e ama tudo que é fofinho, inclusive o editor-chefe desse site.