Scott Pilgrim sem Scott Pilgrim? Ao se afastar de seu protagonista, a animação toma caminhos surpreendentes e muito bem-vindos nessa nova adaptação.
Inspirado na série de quadrinhos homônima de Bryan Lee O’Malley, o filme Scott Pilgrim contra o Mundo, dirigido por Edgar Wright, ganhou status de cult desde seu lançamento (2010). A obra foi um sucesso e, lentamente, foi marcando toda uma geração. Agora os quadrinhos ganham uma nova adaptação, dessa vez, em formato de anime. Mas, o que poderia se mostrar como algo desnecessário, acaba surpreendendo pela qualidade e mudanças propostas.
A animação irradia em todos os aspectos a criação original, é vibrante, divertida e única. A liberdade que uma adaptação para anime traz é sentida nas escolhas visuais apresentadas, assim como na narrativa abordada pela história. Neste momento, não é surpresa para ninguém o fato dela não seguir os mesmos passos do quadrinho e do filme, expandindo o universo de ambos e alcançando um novo patamar.
A história de Scott Pilgrim, o jovem músico apaixonado que se envolve em uma série de batalhas épicas contra os sete ex-namorados malignos de sua amada Ramona Flowers, ganha novas camadas ao se atualizar nas questões que permeiam a história, amadurecendo seus personagens e a forma como lidam com seus conflitos. Ao invés de esperar que seu atual namorado resolva seus antigos problemas, Ramona apenas decide ela mesma lidar com seus erros e fazer as pazes com seu passado, mudando toda estrutura do original e dando um novo toque para esses personagens.
Para aqueles que buscam acima de tudo a nostalgia, ela ainda está presente na voz dos personagens, uma vez que todos os atores envolvidos no live action retornaram. Assim como na trilha sonora que segue espetacular como a do filme, se fazendo parte essencial da ambientação daquele mundo e da fluidez das cenas.
Essa nova adaptação de Scott Pilgrim brilha ao demonstrar a forma correta de se lidar com algo que já foi contado, escolhendo deixar seus personagens crescerem e trabalhar suas nuances, ao invés de apenas se escorar em lembranças. Ao se afastar de seu protagonista, que sempre foi meio babaca, o anime brilha ao expandir tudo que era ofuscado por ele, nos dando a chance de ver que existe muito mais ali do que poderia se imaginar.
Mais um jornalista de cultura pop e otaku nas horas vagas.