Encanto

Encanto | A importância de sermos nós mesmos

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Considerada por muitos como uma das melhores animações dos últimos anos, Encanto nos entrega uma história emocionante e nos faz refletir sobre nossos próprios dons.

Encanto é a mais nova animação da Disney dirigida por Byron Howard e Jared Bush (Enrolados, Zootopia, Bolt) e nos conta a história da família Madrigal. Ambientado na Colômbia, é um filme belíssimo visualmente, com efeitos e cores conversando de forma perfeita e harmônica. Mas, além do visual, a animação conta com uma trilha sonora impecável e viciante. E não poderia ser diferente, já que o responsável é ninguém menos que Lin-Manuel Miranda (Hamilton, Moana, In The Heights, A Jornada de Vivo)! 

A família Madrigal, em meio a um evento doloroso, é abençoada com um milagre que faz com que sua nova casa seja mágica e toda nova geração receba poderes, dons especiais. Começando com os três filhos da matriarca, Alma (Abuela), e seguido pelos netos. A única, porém, que não recebe um dom é Mirabel. A jovem, apesar disso, se mostra bem resolvida com o fato e, já no começo do filme, canta alegremente sobre toda família e o dom de cada um. 

Porém, conforme a história vai se desenrolando, vemos que não há nada tão bem resolvido assim e que o fato dela não ter poderes, a faz sentir ‘’menos especial’’ em relação ao resto da família. O que acaba nos trazendo para perto dela, através dos nossos próprios sentimentos na vida real. Quem nunca se sentiu inferior em relação a um primo ou uma irmã? Quem nunca recebeu frases duras ou foi rebaixado por alguém da própria família? Acho que é universal esse sentimento em algum momento de nossas vidas ou até mesmo constantemente. O que torna o filme um pouco doloroso em algumas cenas.

A matriarca da família, a Abuela, é o principal foco das frases negativas e da pressão que cada um dos membros acaba nutrindo. Como um dos seus filhos, Bruno, afastado por causar negatividade com o seu dom de prever o futuro e gerando tanto desconforto que virou consenso não falar sobre ele. Também as irmãs de Mirabel, Luísa sofre com ansiedade e “tiques nervoso’’ por ser a mais forte e necessária o tempo todo e Isabela, prestes a se casar com alguém que não ama apenas para o bem da família e sentindo a pressão para ser perfeita, como o seu dom sugere que seja. 

Isso faz com que o estresse chegue ao ápice e o milagre da família se abala. Mirabel fica no meio de uma situação onde só ela pode ajudar a salvar a todos. Justamente, a única sem um dom especial, sem poderes. Isso nos faz refletir sobre o quanto somos cobrados para sermos perfeitos, fortes, para estarmos à disposição o tempo todo, nos abdicando dos nossos próprios desejos e sonhos em prol dos outros. Sobre como as pessoas podem simplesmente virar as costas e não ouvir quem só quer ajudar, dar um conselho, dar seu melhor. 

A cena de encontro de Mirabel com seu tio Bruno é uma das melhores de todo filme e, ao mesmo tempo, a mais triste. Pois, vemos que, apesar de ser ignorado e tratado como vilão por anos, Bruno ainda ama aquela família, ainda está ali querendo ser parte dela, vendo por uma brecha na parede seus familiares reunidos em jantares, cantando sobre não falar sobre ele (aliás, é a melhor música de ‘’vilão’’ em anos!!) e ficando apenas com o que sobrar. E, ainda assim, querer ajudar a salvar o milagre.

Em nossas vidas, passamos por fases e situações parecidas. Onde, mesmo distantes e magoados, estendemos nossas mãos, perdoamos, seguimos em frente. Nós somos muito mais do que nossas habilidades e dons especiais e Encanto nos mostra isso brilhantemente. Mirabel consegue salvar a família e o milagre com amor, perdão e, acima de tudo, união. Ela acaba sendo um fio que liga todos os parentes, que une a todos independentemente dos seus poderes e do seu passado. 

Encanto é uma animação incrível com músicas viciantes (algumas me fizeram lembrar muito da Jornada de Vivo) e personagens maravilhosos (Dolores e Camilo são meus preferidos!), mas vai muito além disso. O longa nos traz a reflexão sobre o quão especial somos, como cada indivíduo é importante. A família Madrigal está longe de ser perfeita, assim como nossa própria família, mas talvez Mirabel esteja ali para nos mostrar como é libertador ter a simplicidade e leveza de sermos apenas nós mesmos. 

Que venham os prêmios, Lin-Manuel! 


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